Brasil Penta: todos os títulos da Seleção

Esse artigo foi escrito originalmente como roteiro para o vídeo acima.

O Brasil é pentacampeão da Copa do Mundo, e por isso considerado o maior país quando o quesito é futebol. Hoje vamos passar por toda a trajetória da Seleção Brasileira, por cada uma dessas cinco conquistas.

Suécia 1958

A Copa do Mundo de 1958, sediada na Suécia, contemplou uma geração que carregava o enorme peso de lavar a alma dos brasileiros após o enorme trauma que foi a Copa de 1950, quando ao sediar a competição mais importante do futebol a Seleção Brasileira conseguiu chegar no que foi basicamente a decisão, teve o Maracanã lotado com 200 mil pessoas para apoiar a equipe, e acabou sendo derrotada para o Uruguai, algo que por muito tempo foi o maior trauma da história do futebol brasileiro.

O chamado Maracanazo foi um baque tão forte para a Seleção Brasileira que nos fez até abandonar a cor branca usada até então e substituí-la pela amarelinha dos dias de hoje. 

Era uma época diferente, o Brasil não era ainda respeitado e temido no mundo da bola. A Copa do Mundo já existia desde 1930, mas ainda não havíamos sido campeões nem uma única vez.

Foto: Popperfoto/Getty

O que havia de diferente em 1958, além de uma preparação e um planejamento melhor, era aquilo que mais é decisivo nas 4 linhas: jogadores. O técnico Vicente Feola contava com jogadores mais experientes e respeitados como o capitão Bellini, Didi, Zito, Djalma Santos, Vavá e Zagallo.

Além deles, a Seleção Brasileira contava com uma dupla que jamais viria a ser derrotada jogando juntos em toda a história: Pelé e Garrincha

Claro, hoje é fácil falar sobre o Pelé, mas na época ele era apenas um menino de 17 anos. Pense como seria hoje, a Seleção Brasileira ir para uma Copa do Mundo com um garoto surgindo no futebol brasileiro e ele chegasse lá e simplesmente destruísse. Foi isso o que houve em 58, algo simplesmente de outro mundo.

Mas não foi da noite pro dia, porque o Pelé e nem o Garrincha começaram como titulares. Ambos eram reservas na estreia contra a Áustria e no segundo jogo da fase de grupos, contra a Inglaterra, que foi um amargo empate em 0x0.

Foi apenas no 3º jogo, contra a União Soviética, que ambos iniciaram e dali não mais sairiam do time, principalmente porque a partir da fase de mata-mata o menino de 17 anos chamado Pelé começou a se apresentar para a Europa e para o mundo. 

Foto: picture alliance/Getty

Na época, com a quantidade de participantes menor do que é hoje, não haviam oitavas de final. Nas quartas de final, o primeiro mata-mata, o Brasil enfrentou o País de Gales. Vitória suada, dura, por 1×0, com gol adivinha de quem? De Pelé. O que poderia ser um simples golpe de sorte, um rapaz de 17 anos sendo decisivo em uma Copa do Mundo, na verdade se mostrou outra coisa na semi-final, quando o Brasil trucidou a França por 5×2, com um hat-trick de Pelé. Sim, 17 anos e hat-trick na semifinal da Copa.

Depois de confirmar a final de maneira surpreendente, havia ainda a questão de superar o que foi o trauma de 50. O Brasil estava mais uma vez em uma final, mas dessa vez era o oposto de 1950.

No dia 29 de junho, no Estádio Rasunda, estávamos fora de casa, em outro continente, decidindo uma final de Copa contra a Suécia em pleno território sueco. Parecia que o pesadelo iria se repetir quando, aos 4 minutos, Nils Liedholm fez bela jogada na entrada da área e abriu o placar.

Mas agora o Brasil tinha Garrincha, que partiu pra jogada individual na direita, cruzou pra área e deixou Vavá em condições de só empurrar pro gol. Dali pra frente os ânimos se acalmaram, o Brasil botou a bola debaixo do braço e deu uma aula de futebol aos europeus. Vavá, de novo, virou o jogo aos 32′, mais uma vez com assistência de Garrincha, e o Brasil foi pro intervalo vencendo.

No segundo tempo, Pelé simplesmente decidiu que não ia mais ter jogo e aos 55′ fez um dos gols mais antológicos de todos os tempos, recebendo na área, dando um chapéu no defensor, e fuzilando pro gol. Zagallo fez o quarto gol aos 68′ e os suecos até tentaram reagir com gol de Agne Simonsson aos 80’, mas no fim Pelé fechou a conta e confirmou a vitória brasileira por 5×2, numa jogada que ele mesmo inicia com passe de calcanhar.

Foto: Reprodução

O Brasil era pela primeira vez campeão mundial de futebol, e Bellini foi o primeiro capitão a erguer a Jules Rimet com a camisa da Seleção Brasileira. A primeira conquista de um pentacampeonato que até hoje só nós temos. E ali também começou o reinado de Pelé no mundo da bola. 

Chile 1962

Foto: Popperfoto/Getty

Se o Brasil chegava com um forte trauma e inseguranças para o Mundial de 58, pode-se dizer que a situação em 62 era o oposto. Garrincha e Pelé, já consolidados por anos como os melhores jogadores do Brasil, chegavam desta vez não como reservas, mas mais maduros e como os líderes técnicos de uma seleção cheia de moral, que não ia mais em busca da sua primeira conquista e sim de um bicampeonato.

O comando técnico agora não pertencia mais a Vicente Feola e sim Aymoré Moreira, que decidiu basicamente dar continuidade ao trabalho do seu antecessor. O retrato disso é que, na estreia da Copa de 62, o Brasil contava com 9 titulares que haviam iniciado a final contra a Suécia em 58: Gilmar, Djalma Santos, Nílton Santos, Zito, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo.

Num grupo com Tchecoslováquia, México e Espanha, não havia dúvidas de que o Brasil era amplo favorito, e isso se confirmou com uma boa vitória na estreia contra o México, com gols de Pelé e Zagallo

Mas no segundo jogo, contra a Tchecoslováquia, veio o grande baque: Pelé se lesionou. E não foi apenas uma lesão simples que o tirou de um jogo: o camisa 10 da Seleção Brasileira simplesmente não conseguiu mais entrar em campo no restante daquela Copa. Pra piorar, o Brasil empatou aquele jogo em 0x0, saindo com uma séria dúvida: será que sem o Pelé, dá pra gente?

Um desfalque aterrador. Mas mesmo nessas circunstâncias, Amarildo foi o escolhido para o lugar do Rei e não decepcionou: no 3º jogo da fase de grupos, marcou os 2 gols do Brasil na vitória por 2×1 sobre a Espanha. Naquela Copa de 62, o Brasil podia se dar ao luxo”se jogar sem o seu principal jogador, porque do lado dele havia outro gênio geracional: Mané Garrincha.

Foto: Popperfoto/Getty

Nas quartas de final, o Brasil despachou a Inglaterra por 3×1, 2 gols de Garrincha e um de Vavá.

Nas semifinais, contra os anfitriões chilenos, mais uma vez o Mané botou o jogo no bolso, guardou 2 gols e Vavá marcou outros 2, vitória contundente por 4×2 e vaga na final carimbada.

No dia 17 de junho, no Estádio Nacional do Chile, o Brasil foi em busca do bi.

A decisão foi contra a seleção que o Brasil não havia conseguido vencer, no jogo em que o Pelé se lesionou: a Tchecoslováquia. E assim como na final de 58, os adversários começaram melhores e saíram na frente, com Josef Masopust infiltrando e recebendo sozinho na área, só tendo o trabalho de tirar do goleiro.

Mas quis o destino que Amarildo, que substituiu Pelé no time titular, empatasse o jogo após bela jogada individual e batida cruzada. No segundo tempo, o Brasil botou a bola no chão e mais uma vez Amarildo foi decisivo: fez bela jogada individual na esquerda e botou a bola na cabeça de Zito no 2º pau pra virar o jogo.

E pra fechar a conta, o goleirão Viliam Schrojf entregou a paçoca e Vavá não perdoou. Brasil 3×1, bicampeão mundial de futebol de maneira absoluta, superando a perda de seu melhor jogador durante quase todo o torneio. O Brasil alcançava Itália e Uruguai, que também tinham 2 títulos cada, e a partir daquele momento em 1962 nunca mais uma seleção teve mais títulos de Copa do que o Brasil.

Com aquela vitória no Chile, estava mais do que provado que o futebol brasileiro era o mais forte do mundo, e que aquela geração havia exorcizado qualquer fantasma do passado, e assim o capitão Mauro Ramos ergueu a segunda taça Jules Rimet da história do futebol brasileiro.

México 1970

Foto: FIFA

“A melhor seleção de futebol de todos os tempos”. 

Uma frase bastante ouvida em todos os lugares quando se fala do emblemático Esquadrão de 70.

Mas o processo até lá foi doloroso. Em 1966, chegando como amplo favorito à Copa do Mundo na Inglaterra, o Brasil acabou caindo na fase de grupos, ficando atrás de Portugal do Eusébio e da forte Hungria, uma das mais fortes do futebol naqueles tempos. A decepção era grande, ainda mais por saber que tínhamos uma geração absurda e que era um desperdício gigantesco cair em uma Copa sem sequer disputar o mata-mata.

Para a Copa de 70 no México, o planejamento não foi dos melhores. O técnico agora era Mário Jorge Lobo Zagallo, o mesmo que havia sido bicampeão do mundo pelo Brasil em campo, agora comandando de fora das 4 linhas.

Mas havia um detalhe: ele havia assumido a equipe faltando apenas 3 meses para o Mundial, substituindo João Saldanha que, segundo dizem, foi demitido por rebater uma crítica do então presidente do Brasil sobre a sua convocação. O General Médici comandava o país em 70, durante a ditadura militar. Algo simplesmente grotesco, mas que no fim acabou dando certo por linhas bastante tortas. 

Nunca, jamais, uma convocação de uma seleção foi tão despreocupada como a convocação pra Copa de 70. O Brasil tinha uma variedade gigante de jogadores absurdos. Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Gérson, Rivellino, Jairzinho, Tostão e, obviamente, um tal de Pelé, que vivia talvez o seu auge em termos técnicos, físicos e mentais – o camisa 10 do Brasil era o maior e melhor jogador do mundo e chegava ao México como o grande astro da Copa, com a cabeça tranquila para aquela que seria a sua última disputa no palco máximo do futebol.

Foto: Mirrorpix/Getty

O Brasil caiu num grupo relativamente complicado: Inglaterra, a atual campeã do mundo; Tchecoslováquia, os rivais da decisão do bicampeonato em 62; E por fim, a modesta Romênia.

Mas pro Esquadrão de Zagallo, o que parecia complicado foi na verdade um passeio. A seleção passou pro mata-mata com 100% de aproveitamento, incluindo um sonoro 4×1 contra a Tchecoslováquia. É nesse jogo que teve o famoso “gol que Pelé não fez”, quando ele tenta chutar do meio do campo.

Contra a Inglaterra, 1×0 com belo gol de Jairzinho, com mais um lance histórico protagonizado por Pelé: uma cabeçada do Rei foi defendida de forma milagrosa pelo goleiro inglês Gordon Banks, que é considerada por muitos até hoje como a “defesa do século”. Curiosamente, Pelé e Banks viraram amigos, e na ocasião do falecimento do inglês em 2019, Pelé lembrou da defesa e homenageou seu colega:


“Foi a melhor defesa que eu já vi, ao vivo e em todos os milhares de jogos a que eu já assisti”

O mata-mata novamente começou já nas quartas, e o Brasil teve pela frente um confronto sul-americano contra o Peru, que na época contava com o grande Teófilo Cubillas, um dos maiores de sua história. Mas não foi o suficiente pra ameaçar aquele time, que venceu por 4×2 com gols de Rivellino, Jairzinho e Tostão, que anotou duas vezes. 

Não era Copa América, mas de novo a Seleção Brasileira teve um sul-americano pelo caminho agora na semifinal, dessa vez o Uruguai. Uma oportunidade de ouro pra se ter uma revanche após o que aconteceu na Copa de 50, embora evidentemente fosse um contexto bastante diferente.

O Brasil despachou a celeste por 3×1 com gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivellino, porém mais do que o resultado, essa partida ficou marcada na história dos Mundiais por lances que sequer terminaram em gol. Para quem é ligado no mundo da bola, é simplesmente impossível nunca ter ouvido a história da “cotovelada do Pelé no uruguaio”, quando o gênio da camisa 10 aproveitou de um lance isolado na lateral do campo para revidar de maneira brutal uma forte entrada que havia recebido, mandando o clássico picolé de osso na cara do Dagoberto Fontes.

Foi também nessa partida que o futebol viu um de seus lances mais marcantes, quando Pelé dá um sensacional drible no goleiro sem tocar na bola e finaliza depois, mas a bola acaba não entrando, se tornando até o dia de hoje um dos momentos de maior lamentação da história das Copas, uma bola que merecia entrar demais.

Foto: FIFA

Mas o importante é que o Brasil estava na final. Todavia, teríamos pela frente uma Seleção que também era bicampeã do mundo na época: a Itália, que havia eliminado a fortíssima Alemanha na semifinal.

Disputada no Estádio Azteca em 21 de junho de 1970, a final tinha tudo pra ser bastante equilibrada. E até foi por um período.

Logo aos 18′, em jogada pela esquerda, Rivellino manda pra área e Pelé dá uma senhora testada firme para abrir o placar, num gol que rendeu uma das fotos mais icônicas da história do futebol, com Pelé comemorando o gol nos braços de Jairzinho.

A Itália conseguiu o empate aos 37’ graças a uma bobeada do Clodoaldo que Roberto Boninsegna não perdoou. Mas apesar do jogo ir empatado pro intervalo, com o nível de jogo daquele Esquadrão era questão de quanto tempo os italianos iriam aguentar competir.

Aos 66′, Gérson, o Canhota de Ouro, abriu pro lado e mandou um balaço de fora da área para botar o Brasil na frente de novo. E o Brasil não recuaria pra manter vantagem coisa nenhuma. Pouco depois, aos 71′, o Canhota mandou um lançamento de muito longe na cabeça do Pelé, que só precisou ajeitar pro Jairzinho guardar o terceiro.

Ainda deu tempo do Capita, Carlos Alberto Torres, fechar a conta numa linda jogada coletiva que terminou com o lateral direito chegando como um foguete na área para fuzilar. Um gol icônico, que representava o brilhantismo daquela seleção.

Foto: Alessandro Sabbattini

Brasil 4, Itália 1, uma das vitórias mais acachapantes na história das decisões de Copa do Mundo, que apenas confirmou o que já se sabia: aquela Seleção de 70 era imparável, não havia nenhum adversário à altura, e não por acaso o Brasil teve 100% de aproveitamento. Nessa jornada, Jairzinho meteu gol simplesmente em todos os jogos da Copa. Todos. Com essa conquista, Zagallo se tornou o primeiro a ser campeão da Copa como jogador e treinador. Pelé, o primeiro e único jogador a vencer 3 Copas do Mundo.

Carlos Alberto Torres ergueu a Jules Rimet e o Brasil se sagrou tricampeão mundial de futebol, sendo a primeira Seleção a vencer 3 vezes a Copa do Mundo. Uma copa cheia de momentos marcantes e com um Brasil considerado um dos melhores de todos os tempos.

Estados Unidos 1994

Foto: Onze/Getty

Entre os anos de 1958 e 1970, basicamente na Era Pelé, o Brasil disputou 4 Copas do Mundo e venceu 3. Um desempenho simplesmente absurdo, sem precedentes, que havia deixado o trauma de 50 no passado e estabelecido uma nova potência no futebol mundial, uma seleção que colocava medo e respeito nos adversários. Depois dali, mesmo com o Pelé se aposentando da Seleção Brasileira, era razoável pensar que o Brasil seguiria firme e forte nas Copas. O tetra, o penta, o hexa? Era questão de tempo. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.

74, 78, 82, 86 e 90. Foram 5 Copas do Mundo consecutivas sem o Brasil sequer chegar à final. Nesse meio tempo, viu-se diferentes histórias memoráveis nos Mundiais, como a poderosa Alemanha de Muller e Beckenbauer; O Carrossel Holandês de Michels e Cruyff, uma das equipes mais marcantes da história da competição; A surpreendente Itália do artilheiro Paolo Rossi, que castigou o Brasil; e o desempenho apoteótico de Maradona em 86, que reverbera até os dias de hoje em conversas sobre grandes atuações individuais. 

Mas nada de Brasil. E não era por falta de qualidade: entre os anos 70 e 80, o Brasil foi agraciado com vários jogadores históricos, como Zico, Rivellino, Paulo Roberto Falcão, Sócrates, Dinamite, Leandro, Júnior, Cerezo, e muitos outros mais. Mas apesar de tantos craques, sempre faltava algo. 

Foto: MLS.com

1994 marcava o aniversário de 24 anos da conquista do tri. A pressão em cima daquela geração do futebol brasileiro era gigantesca. Como pode a maior seleção do mundo estar há tanto tempo sem conquistar a Copa? Pra piorar, a classificação para o Mundial dos Estados Unidos não foi das mais tranquilas. Nosso melhor jogador, Romário, que estava afastado da Seleção por desentendimentos com a comissão técnica, precisou voltar nos finalmentes para colocar o Brasil no Mundial num jogo emblemático contra o Uruguai, momento que talvez tenha sido o grande divisor de águas pro mental daquela Seleção. 

Mas apesar de ter fortes valores individuais em todos os setores, o time de 94 talvez não fosse dos mais empolgantes. Tínhamos Taffarel, Ricardo Rocha, Mauro Silva, Dunga, Zinho, a sensacional dupla Bebeto e Romário e muitos outros grandes jogadores, mas em termos de qualidade a Seleção de 94 estava abaixo de muitas outras seleções brasileiras, até mesmo algumas que não foram campeãs mundiais. A empolgação não era das maiores, e dá até pra dizer que aquele time de Carlos Alberto Parreira era meio desacreditado por muitos. 

Mas fato é que aquele time era extremamente sólido. No grupo com Rússia, Suécia e Camarões, passou em primeiro com duas vitórias e um empate, apenas 1 gol sofrido e 6 marcados. Romário, que há pouco tempo estava fora da seleção, marcou em todos os 3 jogos.

A primeira partida do mata-mata, agora a fase de oitavas de final contra os Estados Unidos, foi complicada. O Brasil teve Leonardo expulso no fim do primeiro tempo e não fazia um bom jogo. Esse jogo tava tão esquisito que Romário, um dos atacantes mais letais da história do esporte, driblou o goleirão americano e com a meta vazia chutou pra fora. Mas viria dos pés dele a jogada pro gol de Bebeto, que sacramentaria o fim daquele susto, de um jogo que acabou sendo extremamente perigoso.

Foto: Mark Leech/Getty

As quartas de final contra a Holanda foi um jogo extremamente emblemático. Romário abriu o placar num cruzamento de Bebeto. O segundo gol, marcado por Bebeto, rendeu a icônica celebração em homenagem ao filho que ele esperava na época. Mas apesar desse ser o gol do 2×0, o Brasil ainda cedeu o empate, e a vitória só veio com o chutaço de Branco de falta e de muito longe, já depois dos 80′.

Na semifinal, já vimos um jogo muito menos aberto do que contra a Holanda, onde o Brasil teve muitas dificuldades contra a Suécia. Romário repetiu aquele lance contra os Estados Unidos, tirando do goleiro e perdendo com o gol vazio, dessa vez o zagueirão sueco tirando em cima da linha.

Mas era um cara que poderia perder uma mas não duas. No final, já nos 80′, o baixinho Romário apareceu no alto pra mandar de cabeça, entre os zagueiros grandalhões da Suécia, para decidir e devolver a Seleção Brasileira a final da Copa do Mundo onde ela merece sempre estar.  

Em 17 de julho, no Rose Bowl, quis o destino que a Itália, rival da decisão de 70, fosse nossa adversária mais uma vez numa final de Copa, e mais uma vez no confronto direto pela hegemonia, onde quem vencesse seria tetracampeão, se isolando como o maior ganhador da Copa do Mundo

A fortaleza italiana de Maldini e Baresi na defesa, de Donadoni no meio, e do craque Roberto Baggio no ataque. Não era um adversário simples, o jogo era dificílimo – e foi o que se viu em campo. Duas equipes extremamente disciplinadas e com defensores incansáveis. Ambos os times tentaram uma infinidade de arremates de longe, num 0x0 que levou o jogo para a prorrogação. Até que Romário recebeu uma bola livre, no 2º pau, e chutou pra fora.

É louco ver como alguns lances são esquecidos de acordo com o resultado. Romário, o craque daquela Copa, talvez fosse cobrado se o Brasil tivesse perdido o título.

Com o 0x0 que perdurou por 120 minutos de bola rolando, a primeira final de Copa do Mundo do Brasil em 24 anos foi decidida nos pênaltis. Como diria o Galvão, haja coração.

Baresi já começou isolando, bom para o Brasil. Mas Pagliuca catou a cobrança de Márcio Santos logo depois, então a vantagem não durou nada. Os demais cobradores fizeram sua parte e colocaram a bola na rede, até finalmente Massaro parar em Taffarel e o Brasil mais uma vez ficar na frente.

Foto: Henri Szwarc/Getty

No fim, os brasileiros sequer precisaram bater o 5º pênalti, porque na cobrança final da Itália, Baggio mandou a bola fora do Rose Bowl e um grito que estava entalado há 24 anos pode ser solto: “É TETRA”.

Dunga ergueu a taça, que já não mais era Jules Rimet. Era essa taça mais moderna que conhecemos hoje em dia. O Brasil comandado por Parreira era tetracampeão mundial de futebol e estava mais uma vez no topo da hierarquia de seleções de maneira isolada. 

Coréia do Sul e Japão 2002

Foto: Martin Rose/Getty

Depois da conquista do tetra em 94, o Brasil retomou sua força e confiança e não demorou nada pra voltar ao palco máximo do futebol. Em 98, liderados pelo gênio Ronaldo, que contemplou o tetra do banco de reservas ainda novinho, agora formando dupla com o Rivaldo, o Brasil chegou a sua 6ª final de Copa do Mundo, embora esta seja uma lembrança nada agradável pro povo brasileiro.

Mas mesmo perdendo, o fato era que aquela geração mostrou que era de um nível alto e deu lampejos do que poderia vir a ocorrer em 2002, com aqueles caras chegando muito mais maduros e preparados mental e fisicamente. Em 1997, Ronaldo venceu a Bola de Ouro, enquanto Rivaldo faturou a honraria em 99. Não é todo dia que se vê uma Seleção tendo seus dois principais jogadores como Bola de Ouro, então a expectativa pro Mundial sediado na Coréia do Sul e no Japão era altíssima, especialmente se considerarmos outros excepcionais jogadores que também chegavam comendo a bola, como o goleiro Marcos, Cafu, Roberto Carlos, Lúcio, Gilberto Silva e claro, o jovem Ronaldinho, que despontava como um craque da bola. 

Mas nem tudo eram flores. O técnico Luiz Felipe Scolari assumiu o time apenas 1 ano antes da Copa, após várias tentativas e erros no comando técnico da Seleção Brasileira.

Mesmo ele não teve vida fácil, afinal conseguiu a proeza de ser eliminado da Copa América contra a seleção de Honduras. Mais impressionante do que isso é o fato dele não ter sido demitido e ter conseguido se manter no cargo até a disputa do Mundial e, aos trancos e barrancos, garantir a vaga nas Eliminatórias.

Hoje é fácil falar bem, mas o fato era: a Seleção de 2002 chegou a correr risco de ficar de fora da Copa. Para aumentar a desconfiança, Felipão deixou Romário de fora da convocação por desentendimentos com o atacante, mesmo este vivendo uma excelente fase jogando no futebol brasileiro. 

Mas de todas as turbulências, talvez a maior tenha sido o triste caso de Ronaldo Fenômeno. O gênio que explodiu e se tornou sem dúvidas o melhor jogador do mundo passou a sofrer com sérias lesões no joelho, sendo a pior delas a que ocorreu em 12 de abril de 2000, quando Ronaldo voltava a vestir a camisa da Inter de Milão após um período se recuperando justamente de uma cirurgia no joelho direito, mas após pouco tempo em campo esse mesmo joelho acaba cedendo e rompendo os tendões e os ligamentos, uma lesão absurdamente séria e cuja imagem choca até os dias de hoje.

O que parecia é que Ronaldo não conseguiria jogar a Copa de 2002. Foi um longo período de 15 meses de recuperação para o Fenômeno, que de forma surpreendente conseguiu retornar e assegurar uma vaga entre os convocados. 

Foto: Gunnar Berning/Getty

Muitas dúvidas, muitas incertezas, muita desconfiança: assim foi o caminho até o penta. 

O grupo da Seleção Brasileira era relativamente tranquilo. Turquia, Costa Rica e China não apresentaram grandes problemas pro time de Felipão, que sem dúvida alguma fez bom uso dessas partidas para ganhar corpo e chegar bem para a fase de mata-mata, que abriu com a Bélgica no nosso caminho nas oitavas de final. 

Apesar de ainda não ser a Ótima Geração Belga™, o jogo foi bastante complicado pro Brasil. Nada de gols no primeiro e na metade do segundo tempo, mas aos 22 minutos lançamento de trivela de Ronaldinho e Rivaldo abriu o placar com um golaço sensacional de fora da área. Ronaldo fechou a conta no finalzinho e o Brasil avançou pras quartas.

Nas quartas de final a parada era ainda mais dura com a fortíssima seleção da Inglaterra.Não era flor que se cheire, e aos 22 minutos Owen mostrou isso após aproveitar falha bizonha de Lúcio e abrir o placar pro English Team. Mas naquele dia Ronaldinho Gaúcho estava inspirado. Numa jogadaça pelo meio, com pedalada e tudo, ele rolou pro Rivaldo empatar. E no segundo tempo, um lance histórico daquela Copa. Falta de muito longe pro Brasil, Ronaldinho vai cruzar a bola na área e ela acaba dentro do gol. Brasil nas semis.

Foto: Mark Leech

A Turquia foi a adversário, a mesma que havíamos vencido por 2×1 na fase de grupos num jogo bastante difícil. Um detalhe bastante curioso sobre essa partida é que, antes dela, Ronaldo fez o tão memorável ‘corte cascão’, sob o pretexto de desviar o foco da imprensa de sua condição física e fazer eles focarem no seu corte bizarro.

A Turquia repetiu a dose e mais uma vez tentou complicar a vida do time brasileiro, mas no começo do segundo tempo um gol de biquinho do Ronaldo Fenômeno foi o bastante pra colocar o Brasil na grande decisão. E a foto icônica: o dedinho apontando na comemoração com o penteado cascão. 

No dia 30 de junho de 2002, no Estádio Internacional de Yokohama, o Brasil enfrentou a tão sempre temida Seleção da Alemanha na final da Copa do Mundo. Um time que talvez não contasse com grandes valências individuais como o Brasil, mas que definitivamente não podia ser subestimado, porque a Alemanha é a Alemanha

Mas tem um porém: Fenômeno é Fenômeno. Após um primeiro tempo equilibrado, na segunda etapa, aos 67′, Ronaldo que vinha daquela lesão seríssima estava no topo do mundo e voando, tenta passar no meio de dois, cai, corre atrás, desarma, rouba a bola e aí o Rivaldo mete a patada pro gol.

O resto todo mundo sabe. Oliver Khan bateu roupa e Ronaldo não perdoou no rebote.

E não parou por aí. Já na reta final de jogo, aos 79′, Kleberson manda da direita e após lindo corta-luz de Rivaldo, que é quase um crime não contar como assistência, o Fenômeno dominou, abriu pra direita e bateu firme no canto, decidindo de vez e dando o pentacampeonato mundial de futebol para o Brasil

Foto: picture alliance/Getty

Cafu foi o último capitão a erguer a taça da Copa do Mundo com a camisa da seleção brasileira, em um momento que até os dias de hoje está na memória dos brasileiros que são amantes do futebol. A comemoração também resultou naquele fotão de Ronaldo e Rivaldo beijando a taça ao mesmo tempo, os craques daquela Copa. Superação incrível de Ronaldo e de toda a seleção, que 12 meses antes passava por crise.

Especialmente porque desde então, o Brasil não tem sido bem-sucedido em Copas do Mundo. A grande decepção com a seleção de 2006, a desilusão em 2010 com direito a jogar perdendo o juízo, o terrível 7×1 dentro da nossa casa e a eliminação dolorosa para a Bélgica: assim, lá se vão 20 anos que o Brasil não vence o Mundial e que o sonho do Hexa permanece ainda incompleto.

Ainda assim, depois de tudo isso, apenas uma seleção no mundo ganhou uma, duas, três, quatro, cinco vezes. A Seleção Brasileira, Pentacampeã Mundial.

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Yuri Dantas
Yuri Dantas
Membro do Euro Fut há mais de 7 anos. Escrevi mais de 100 roteiros pro canal, hoje trabalho nas redes sociais e comento no Euro Cast. Tenho também meu próprio canal no YouTube - Yuri Dantas.
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