O caminho da Argentina para o TRI mundial!

Esse artigo foi escrito originalmente como roteiro para o vídeo acima do canal Euro Fut!

Hoje eu vou te contar de toda a trajetória da Argentina até o título da Copa do Mundo de 2022, contando tudo o que o Messi passou com a Argentina, as decepções que a seleção vivenciou e a chegada de Lionel Scaloni que mudou toda essa história: esse é O Caminho da Argentina para o Tri Mundial.

A jornada do herói

Foto: Koji Watanabe/Getty

Para começar a contar essa história da maneira como ela merece, temos que que começar com o surgimento do cara do título: Lionel Messi.

A nossa história começa em 2005, quando aconteceu a Copa do Mundo Sub-20. A Argentina sub-20 tinha alguns nomes interessantes e que viriam a figurar pela seleção no futuro, em especial dois caras: Sergio Agüero e seu melhor amigo, Lionel Messi, o capitão do time.

Essa campanha dava uma noção do que seria a carreira do Messi pela albiceleste: ele lidera a equipe como artilheiro do torneio com 6 gols marcados, incluindo gols decisivos nas Oitavas, nas Quartas, nas Semis contra o Brasil e dois gols de pênalti na final contra a Nigéria pra levantar a taça. 

E tem mais: em 2008 ele também representou a Argentina nas Olimpíadas, quando agora com Di María no time o roteiro se repete e novamente encaram o Brasil na semifinal e a Nigéria na final, com passe do Messi pro gol do Di María que garantiu a medalha de ouro.

Era só o começo, mas o tal do Lionel Messi parecia que combinava e muito com a camisa da Argentina. O problema é que essa história pode até parecer de cinema, mas não é nenhum conto de fadas.

Começo nas Copas

Foto: Clive Mason/Getty

Nos torneios juniores o Messi dominava, mas não dava pra dizer o mesmo na seleção principal. Se a história do Messi é a jornada do herói então ela precisa de um vilão, e por mais que o rival histórico da Argentina seja o Brasil, não tem ninguém melhor pra ser vilão da Argentina do que a Alemanha.

É um embate histórico: A Argentina foi campeã em 1986 em cima da Alemanha na final, e aí na final de 1990 já tem uma revanche, quando a Argentina do capitão Maradona perdeu para a Alemanha Ocidental por 1×0.

Depois disso, elas só foram se enfrentar de novo nas Copas em 2006, mas parece que os alemães pegaram o gostinho de serem o carrasco.

Essa Copa foi marcada pela estreia do Messi em Copas do Mundo, quando ele entra em um jogo contra Sérvia e Montenegro e dá uma assistência e marca um gol, mas ainda era reserva quando viu a Argentina derrotar o México nas oitavas e depois ser eliminada para a Alemanha nas quartas de final, em disputa de pênaltis.

Foto: Joern Pollex/Getty

Já em 2010 tudo isso mudou: de uma Copa pra outra o Messi foi de jovem promessa e reserva para titular absoluto e craque da equipe: no ano anterior ele havia ganhado a Champions com o Barcelona e a Bola de Ouro, sendo indiscutivelmente o melhor jogador do mundo naquele momento.

Ele é titular de um time comandado pelo Maradona e que tinha agora caras como Di María, Tevez e Higuaín, e o roteiro da Copa passada se repete: eles avançam e depois vencem o México nas oitavas, mas encaram mais uma vez a vilã Alemanha nas quartas. Agora com Messi a história foi diferente, mas não como eles esperavam: a Alemanha aplica uma goleada histórica, 4×0 fora o passeio, e o melhor do mundo vê a Argentina ser eliminada sem ele marcar um golzinho sequer nessa copa. E soma mais uma decepção com a camisa da seleção.

Messi não é argentino?

Foto: Javier Soriano/Getty

Essa época começou a gerar um debate sobre a “argentinidade” do Messi. E isso se deve a vários motivos: primeiro, ele nunca tinha jogado na Argentina. É verdade que ele fez a base no Newell’s Old Boys, mas saiu ainda muito cedo para ir pro Barcelona, onde terminou sua formação, se tornou profissional, brilhou para o mundo inteiro e jogou quase sua carreira toda. Quando pensamos em grandes craques ídolos de seus países, lembramos de Pelé que ganhou tudo que podia pelo Santos, Maradona que jogou um bom tempo no Argentinos Jr e no Boca Juniors, Cruyff no Ajax e por aí vai: o país inteiro pôde ver e reconhecer o talento desses craques em seus países, mas os argentinos não tem essa memória do Leo em solo argentino.

Outra coisa: por crescer na Espanha, existiu uma possibilidade real do Messi ter defendido a seleção do país. Inclusive em 2010 a Espanha é a campeã do mundo e muita gente reparou que “faltava” o Messi nessa equipe: afinal a base da seleção era o Barcelona, com Puyol, Piqué, Busquets, Xavi, Iniesta e Pedro, seus companheiros de clube e que com certeza iam fazer ele se sentir bastante em casa. 

Por tudo isso e muito mais, faltava “espírito argentino” pro Messi: pega o Maradona por exemplo. O maior ídolo da Argentina, um cara completamente aguerrido, que fazia de tudo para ganhar as partidas – inclusive meter a mão na bola – e também extremamente polêmico. O Messi sempre foi o oposto: não gostava de dar entrevistas, era mais quieto, e apesar da liderança técnica, nunca foi um líder nato dentro de campo, parecendo sumir em alguns momentos decisivos.

Então pega o ano seguinte: Copa América 2011, sediada justamente na Argentina, e a seleção é eliminada logo nas quartas, sem novamente o Messi marcar um golzinho sequer na competição. Faltava alguma coisa pro craque, e 2014 seria a prova de fogo.

Copa de 2014

Foto: Alex Grimm – FIFA/Getty

Chega a Copa de 2014 no Brasil, e agora o patamar do Messi era mais uma vez outro: se da última vez ele era o melhor do mundo, pra essa ele chegava com 4 bolas de ouro e com a fama de já ser um dos melhores de toda a história do futebol. Afinal ele já tinha ganhado tudo que podia, só faltava uma coisa: um título com a Argentina, e no no caso o maior deles: a Copa do Mundo. 

O time base naquela campanha era: Sergio Romero no gol, Zabaleta na lateral direita, dupla de zaga Garay e Federico Fernández, com Marcos Rojo na lateral esquerda. Mascherano era o volante, com Gago e Di María completando o meio-campo, além do Messi, ali como o 10 da equipe. No ataque, Aguero e Higuaín formavam o ataque dos sonhos, pelo menos na teoria.

Na fase de grupos, a Argentina vence a Bósnia e Herzegovina por 2×1 com direito a golaço do Messi, 1×0 no Irã com gol dele de novo, e pra fechar 3×2 contra a Nigéria que outra vez teve gol de Lionel, dessa vez doblete dele e um do Rojo.

Depois de fazer uma campanha perfeita e avançar em primeiro, a Argentina pegava a Suíça nas oitavas, e o favoritismo aparente acabou não se concretizando: o jogo fica empatado até a prorrogação, e é só no finalzinho dela que o Messi vem carregando e toca pro decisivo Di María bater cruzado e marcar o gol da vitória. 

Agora nas quartas contra a Bélgica eles vencem por 1×0, com gol do Higuaín logo no comecinho, mas o jogo trouxe também uma notícia ruim: o Di María se machuca e sai lesionado, ficando de fora do resto da Copa.  

Foto: VCG/Getty

Sem um de seus principais jogadores, a Argentina enfrenta a Holanda de Sneijder, van Persie e Robben nas semis, e o jogo fica no 0x0 até a prorrogação e vai pros pênaltis. É aí que brilha a estrela do goleiro Romero, que pega os pênaltis do Vlaar e do Sneijder pra classificar a Argentina para a grande final da Copa.

O problema é que a final era justamente contra a Alemanha, carrasca que eliminou a seleção nas duas últimas copas. E tem mais: eles vinham de uma vitória absurda por 7×1 nas semis, e eram os claros favoritos para o confronto.

Na final a chance da Argentina ter uma revanche era grande porque acabou tendo as melhores chances do jogo, as principal delas uma perdida pelo Higuaín que fez ele ganhar fama de perna de pau, levando o 0x0 para a prorrogação. Tudo indicava mais uma disputa de pênaltis, mas um cruzamento do Schürrle pro gol do Götze selou a vitória e o tetracampeonato alemão. Dessa vez o Messi chegou pertinho da taça, pôde até ver ela de perto, mas não conseguiu encostar nela.

Copas Américas

Foto: Gabriel Rossi/Getty

Mesmo com a frustração, a Argentina seguia forte tentando sair da seca de títulos, agora na Copa América 2015, no Chile.

O time tem algumas mudanças mas é em grande parte o mesmo, agora com Otamendi na zaga e Pastore no meio-campo. A Argentina avança com direito até à um 6×1 acachapante pra cima do Paraguai nas semis, e a final é justamente contra os donos da casa.

Pode parecer que a Argentina era muito favorita, mas a verdade é que o Chile vivia um dos melhores momentos da sua história, com caras como o Arturo Vidal, Alexis Sanchez e até o mago Valdívia, que conseguem empatar o jogo até as cobranças alternadas.  

Mas sabe aquela história do Higuaín virar tenebroso com a camisa da Argentina? Pois é, ele isola o seu pênalti, o goleiro Bravo pega o do Banega, e o Chile se sagra campeão da Copa América.

Foto: Hector Vivas/Getty

Mais uma decepção argentina, e mais uma de Messi. Mas nunca houve uma oportunidade tão rápida de revanche: isso porque a próxima Copa América foi logo no ano seguinte, a Copa América Centenário de 2016.

De qualquer maneira, a Argentina vai novamente avançando e avançando, e chega mais uma vez na final, mais uma contra o Chile: ou seja, oportunidade de revanche perfeita. O jogo fica no 0x0 de novo, e mais uma vez vai para a disputa de pênaltis.

Romero volta a brilhar e defende o primeiro de Vidal. Aí vai o Messi pra primeira cobrança, pra colocar a Argentina em vantagem… e ele isola completamente a bola. No final, Bravo defende a cobrança de Biglia, Francisco Silva marca e o Chile é campeão, com a Argentina amargando a sua terceira final seguida como vice-campeã. 

Foto: Tim Clayton/Getty

Lionel estava aos prantos, chorando como nunca. Não é nenhum exagero dizer que esse foi seu pior momento da carreira, quando ele inclusive chega a anunciar sua aposentadoria da seleção argentina.

No vestiário pensei que esse é o final para mim na seleção, não é para mim (…). Tentei muito ser campeão com a Argentina. Mas não aconteceu. Não consegui.

Lionel Messi

Copa de 2018

Foto: Giusepe Cacace/Getty

A gente já chamou essa história da jornada do herói do Messi, e na jornada há sempre um momento onde o herói recua, cogita largar mão da sua jornada, mas no final acaba voltando para tentar mais uma vez cumprir seu objetivo. No final das contas Leo voltou pra seleção, agora para a Copa de 2018 na Rússia.

Mas dentre essas últimas decepções, essa Copa foi a pior delas. O goleirão Sergio Romero estava machucado, e o Caballero foi o escolhido para ser seu substituto. O técnico era Jorge Sampaoli, que sempre polêmico acabou virando figura central dessa equipe, menos pela parte tática, e mais por estar claramente isolado e sem o respeito do resto do grupo.

O primeiro jogo foi contra a Islândia, mas o que prometia um passeio virou pesadelo: Messi perde um pênalti e a Argentina apenas empata em 1×1 com gol do Agüero. E talvez aí tenha começado a noção de que o Messi pode ser gênio, beleza, mas pênalti não é a praia dele, e sim seu calcanhar de Aquiles.

Foto: Giusepe Cacae/Getty

O próximo foi contra a Croácia, e a Argentina leva uma bordoada de 3×0, num jogo marcado por uma falha grotesca do Caballero e golaço do Modrić. A sorte é que a Argentina ainda pegou a Nigéria, seleção que eles adoravam derrotar, e com um 2×1 com gol fantástico do Messi e um milagroso do Rojo no final a albiceleste avança então para as oitavas. 

Só que por passar em segundo no grupo ela pegava a França, uma das favoritas do torneio, e não deu outra: eles fazem uma das maiores partidas dessa Copa, com direito a golaço do Di María, gol de Puskas do Pavard, e dois do Mbappé, e assim com um 4×3 histórico a França eliminava a Argentina. Menos mal que foi pra seleção que acabou sendo campeã,mas isso não apagava mais uma decepção para a Argentina, que parecia cada vez mais distante da taça.

A primeira taça

Foto: Chris Brunskill/Getty

Depois do fracasso com Sampaoli quem assumiu como técnico foi o jovem Lionel Scaloni, que era o auxiliar do treinador, e que foi escolhido muito porque ninguém mais queria pegar essa bucha que era a Argentina. Essa seria inclusive a primeira experiência do Scaloni como técnico, já que o ex-jogador havia apenas sido auxiliar na carreira.

A próxima disputa seria então a Copa América 2019, sediada no Brasil. O time teve mudanças, agora com entradas na equipe como as de De Paul, Lo Celso, Acuña e Lautaro Martinez, levando o time até a semifinal contra o Brasil.

Só que não foi dessa vez: o Brasil vence com gols de Gabriel Jesus e Roberto Firmino, indo eventualmente ser o campeão do torneio. E mais uma vez a Argentina ficava chupando o dedo.

Como essa competição é uma loucura, teve mais uma Copa América, agora em 2021, e que mais uma vez acabou sendo sediada no Brasil. E nessa competição, o Scaloni passava a achar mais o seu time: tinha Molina na lateral direita, e no gol entrava agora Emiliano Martínez, que tinha se destacado pelo Arsenal e acabou agarrando a titularidade argentina. 

Foto: Nelson Almeida

A semifinal contra a Colômbia foi uma das partidas mais marcantes da equipe: depois de um 1×1 com gols de Lautaro e um de Luis Díaz, a ideia de uma disputa de pênaltis criava umas lembranças desagradáveis para os argentinos, mas dessa vez eles tinham Dibu Martínez no gol, que adorava provocar e o mais importante: pegar pênaltis. Ele pega os chutes do Sánchez, Mina e Cardona, e classifica a Argentina para a final.

A final agora seria contra o Brasil, maior rival, que eliminou eles na edição passada e que jogava em casa, sendo claramente o favorito devido ao momento recente. Mas se o Brasil era sólido, a Argentina tinha um cara que adorava ser decisivo: De Paul acerta um baita lançamento, Renan Lodi tenta cortar mas falha, e a bola cai nos pés do Di María, que brilha mais uma vez, batendo de cavadinha – igual ele fez lá atrás nas Olimpíadas, lembra? – e marcando o único gol da partida que deu à Argentina a Copa América e ao Messi o seu primeiro título profissional com a Seleção. Para muitos podia ser “só uma Copa América”, mas para o Messi e para a seleção claramente significava muita coisa, e era nítido que um peso enorme foi tirado das costas. 

Agora, a missão era a Copa do Mundo. 

O drama na Copa de 2022

Time que começou a competição

Nas vésperas da Copa a Argentina chegava dessa vez como uma das favoritas ao título: isso porque a campanha de Scaloni era irretocável, e a seleção chegava pra Copa do Mundo de 2022 com 36 jogos de invencibilidade! O time tava organizado, não sabia o que era perder, e estava há mais uma vitória ou empate de bater o recorde máximo de jogos de seleções sem derrota. A primeira partida da Copa era contra a Arábia Saudita: a oportunidade perfeita de alcançar essa marca e deslanchar como o favorito.

O time que começou a Copa tinha Emiliano Martínez no gol, uma linha defensiva com Molina, Cristian Romero, Otamendi e Tagliafico; Paredes e De Paul de volantes, Di María e Papu Gómez mais à frente, e Messi e Lautaro Martínez no ataque.

Foto: China News Service

Começa o jogo e a Argentina é claramente superior, criando chances até que o De Paul é derrubado na área e pênalti pra Argentina! O Messi se prepara pra bater e o que será que estava passando na cabeça dele nesse momento? Não seria a primeira vez que ele perde um pênalti em Copas contra uma seleção mais fraca, mas ele corre para a cobrança e bate de paradinha, deslocando o goleiro e abrindo o 1×0. 

O resto do primeiro tempo é de amplo domínio da Argentina, que poderia ter feito uns 5×0, mas a Arábia implementou muito bem uma linha alta que conseguiu deixar os atacantes argentinos sempre impedidos.

No segundo tempo a previsão era de goleada, mas o Scaloni não conseguiu superar essa linha alta: muito pelo contrário, a Arábia Saudita começa empatando a partida com Al-Shehri. Se a gente tem que apontar defeitos nessa seleção argentina, a fragilidade defensiva da equipe logo após tomar um gol é sem dúvidas o maior deles: logo depois do empate, os sauditas atacam novamente e viram o jogo com golaço de Al-Dawsari, sacramentando uma das maiores zebras da Copa e a quebra da invencibilidade de 36 jogos.

Essa derrota abalou o futebol e especialmente os argentinos. Toda a confiança recente foi simplesmente jogada fora, e quem torcia contra já começava a calcular todas as possibilidades da Argentina ser eliminada na Copa já no jogo seguinte, contra o México.

Uma nova Seleção

Foto: Dan Mullan

É já nesse jogo que o Scaloni resolve mudar: entram Lisandro Martínez, Montiel, Acuña, Guido Rodriguez e Mac Allister no time titular, que contra o México parecia claramente afetado pela derrota anterior, sem conseguir fazer muita coisa mesmo com as alterações.

É no segundo tempo que o treinador faz uma mexida que mudou o que foi a Argentina nessa Copa: entraram os jovens Enzo Fernández e Julián Álvarez, que daquele momento em diante não saíram mais da equipe. Pouco tempo depois o Messi marca um golaço, que não só abriu o placar mas deu também um alívio enorme para a equipe inteira, que ainda marcou mais um com o Enzo.

Agora contra a Polônia a situação ainda era complicada, e uma vitória polonesa poderia eliminar os argentinos. Mas essa era uma outra Argentina, que voltou a ganhar confiança e amassava a Polônia, até ter com um pênalti bem polêmico a chance de abrir o marcador.

O Messi se prepara pra bater e exorcizar de vez os seus demônios, para deixar pra trás essa história de pipocar, de perder pênaltis decisivos. Ele corre e dessa vez chuta ela bem forte, mas o goleiro Szczesny defende!! Mais uma vez os pênaltis perdidos assombravam o gênio, e mais uma vez a classificação corria perigo.

Só que dessa vez, a equipe de Scaloni deu mais uma demonstração, assim como na Copa América, de que não dependia só do Messi: no segundo tempo abre o placar com gol do Mac Allister, e depois a dupla Enzo Fernández e Julián Álvarez funciona muito bem, com passe do Enzo pro gol do Álvarez pra fechar a conta: 2×0 e a classificação para as oitavas.

O time era outro e a confiança estava de volta. Mas um problema antigo voltou: Di María, que não foi 100% para a competição, saiu de campo machucado e virou dúvida para o resto do torneio.

O mata-mata

Foto: VGC/Getty

Contra a Austrália o time se manteve o mesmo – agora com Papu Gómez no lugar do Di María – e a Argentina abre o placar com golaço do Messi e amplia com Julián Álvarez depois de uma falha grotesca do goleirão Maty Ryan.

Mas o time não era perfeito e outros problemas davam as caras: Lautaro Martínez continua a Copa tenebrosa e perde um gol feito, e a Austrália conseguiu diminuir com gol contra do Enzo. Aquela fragilidade da Argentina voltou a aparecer, e no último minuto do jogo a Austrália tem a chance de empatar com Garang Kuol, e só não o faz porque brilha a estrela de Dibu Martínez: quietinho até aqui, mas que faz uma defesa milagrosa para classificar a Argentina para as quartas contra os holandeses.

Ainda sem Di María, o Scaloni faz a primeira grande mudança tática da equipe, espelhando o esquema da Holanda com três zagueiros: Romero, Lisandro e Otamendi, com Molina e Acuña de alas, e o resto do time mais ou menos o mesmo. 

A aposta dá certo: na dificuldade de atacar, o Messi descola um passe absolutamente genial para o Molina abrir o placar. Depois o Acuña é derrubado dentro da área e mais um pênalti para a Argentina. E agora, Messi? Mas o craque volta a bater com a paradinha e garante o 2×0 pros argentinos.

Acontece que o técnico holandês, Louis van Gaal, também implementou a sua estratégia, colocando o grandão Weghorst na área e tentando na bola aérea, e assim ele desconta o placar. Como a gente já sabe a Argentina fica frágil depois de tomar um gol, e no último minuto do jogo a Holanda tem uma falta na entrada da área. Mais uma genialidade, Koopmeiners engana os argentinos e passa pro Weghorst guardar mais um e empatar a partida, que foi então para a prorrogação e eventualmente pros pênaltis.

Poderia ser um pesadelo, mas agora essa Argentina não tinha mais medo das penalidades, muito por causa do seu goleiro: Dibu Martínez pega a cobrança do van Dijk, Messi converte o seu – de novo com a paradinha – e o Martínez pega mais um na batida do Berghuis. O pênalti decisivo fica a cargo de Lautaro, muito criticado até então, mas que converte e classifica a Argentina para a semifinal. 

Foto: VCG/Getty

E lembra daquele problema que alguns argentinos tinham com o jeito mais quietinho do Messi, bem diferente do Maradona? Essa partida sem dúvida resolveu essa questão: além de fazer uma comemoração provocativa, o Messi na coletiva ainda tava com raiva do Weghorst, que foi cumprimentar ele e recebeu um “Que miras, bobo?”, mostrando uma faceta muito diferente do Lionel, mas uma que a torcida adorou.

Nas semis o desafio seria contra a Croácia, e se engana quem achava que seria um jogo fácil, já que os croatas vinham de uma vitória justamente sobre o Brasil, nos pênaltis. Para essa partida, mais um golpe de gênio de Scaloni: o ponto forte da Croácia era seu tridente de meio-campo, com Modrić, Kovačić e Brozović.

Assim, Scaloni trocou mais uma vez seu time: ainda sem Di María, ele resolve ir com Enzo, Paredes, Mac Allister e de Paul, quatro meio-campistas que, com a superioridade numérica, conseguem anular o meio da Croácia.

Por conta disso o jogo ficava a cargo dos atacantes, e um tal de Julián Álvarez tava pra jogo: ele chega na área e é derrubado pelo Livakovic, gerando mais um pênalti para a Argentina! E mais uma vez, o Messi converte. Aí o Álvarez vai carregando a bola até o gol, contando com uma zaga meio atrapalhada, e marca um golaço pra ampliar.

Com 2×0 não dá pra brincar, e é aí que mais uma vez surge o talento absurdo do Messi, que tira o Gvardiol pra dançar e só toca pro Julián fazer mais um e garantir o 3×0, colocando a Argentina na final da Copa do Mundo.

A Argentina tricampeã mundial

Se a gente pudesse escolher, uma final contra a Alemanha seria o fechamento perfeito pra essa história. Mas por mais que às vezes pareça, a vida não tem um roteiro, e o adversário na final seria a França, repetindo o confronto da última Copa do Mundo mas sem o mesmo apelo narrativo.

E o jogo teve mais uma vez o Scaloni mudando a equipe: ele volta com o trio de meio-campo, agora com Di María de volta ao time, só que dessa vez jogando pela ponta-esquerda! 

Parecia arriscado: ele estava voltando de lesão e não joga na esquerda há um tempo, mas valeu e muito a pena: Depois de um domínio argentino absoluto da partida, o Di María dribla pela esquerda, invade a área, é derrubado pelo Dembélé e é mais um, o quinto, pênalti para a Argentina! O Messi volta com a paradinha e marca o 1×0. 

Depois um contra-ataque de manual: a bola passa por Messi, Alvárez, e aí Mac Allister toca pro Di María, livre pela esquerda, decisivo como sempre, só mandar pra dentro do gol. 2×0 e um resultado que parecia destinado. Lembra daquela final de Olimpíadas em 2008? O Di María marca justamente em contra-ataque jogando pelo lado esquerdo. Nisso ele eventualmente vira meia e depois joga grande parte da carreira como ponta-direita, só pra 14 anos depois ser escalado mais uma vez pela esquerda e marcar esse gol na final da Copa do Mundo.

A Argentina dominava mas não conseguia marcar mais gols, com o próprio Di María saindo do jogo, cansado. E por mais que parecesse, ela foi então lembrada de que isso não era nenhum conto de fadas: já no finalzinho da partida, Kolo Muani é derrubado e é pênalti pra França. O até então sumido Kylian Mbappé se prepara, bate bem e desconta. 

E se essa é a jornada do herói Messi, ela poderia muito bem ser também de outro craque: logo depois a França ataca de novo, Mbappé recebe na entrada da área e manda um chutaço, marcando um gol absurdo para empatar a partida. Mais uma vez a Argentina mostrava sua fragilidade depois de tomar um gol, e mais uma vez o jogo ia para a prorrogação.

O momento era todo da França, mas se enganava quem pensava que a Argentina ia só se defender: Lautaro volta a perder gols, mas na terceira chance o rebote cai justamente na perna direita de Messi, que coloca pra dentro e volta a garantir a Argentina campeã do mundo.

Faltava avisar para o Mbappé: no abafa, um chute do craque bate no braço do Montiel, e é mais um pênalti pra França. O Mbappé converte, marcando seu terceiro e deixando claro que não ia deixar barato.

Foto: David Ramos

Antes de acabar, a França tem a chance de vencer o jogo, quando Kolo Muani sai de frente para o gol de Emi Martínez. Com uma decisão diferente ele poderia ter dado uma cavadinha, batido colocado, ou driblado o goleiro e tocado pro gol vazio, e hoje a história seria outra. Mas ele chuta muito forte, e o Martinez faz uma das maiores defesas da história do futebol, impedindo o gol e levando para a disputa de pênaltis.

Parecia destinado que uma carreira inteira com problema nos pênaltis, numa campanha cheia deles, terminasse justamente nas penalidades. Mbappé converte o primeiro e o seu então companheiro de Paris Saint-Germain, Messi, se prepara para a cobrança. Ele mais uma vez cobra esperando o goleiro, e converte então o pênalti mais importante de toda a sua carreira.

E de novo parecia o destino: na final da Copa do Mundo sub-20, Messi marcou dois de pênalti antes de se sagrar campeão. 17 anos depois, fazia a mesma coisa.

Coman se prepara pra bater, e brilha a outra estrela dessa campanha: Martínez pega o pênalti e deixa a Argentina na frente. Dybala converte o seu, e agora Tchouaméni se via contra um Dibu Martínez que provocava e pegava bem, tinha que tirar bem a bola para conseguir marcar. E ele tira até demais, mandando pra fora e perdendo sua cobrança.

Paredes marca a sua, Kolo Muani também, e a decisiva estava nos pés de Montiel. Ele que cometeu o pênalti que empatou o jogo, agora podia se redimir e garantir o título. Goleiro pra um lado, bola pro outro, e a Argentina se sagra tricampeã mundial. Depois de tentar, tentar e se decepcionar diversas vezes, Lionel Messi, o herói da conquista, vencia enfim o único título que faltava em sua estante: a Copa do Mundo. Sorte da Copa.

Foto: Simon M Bruty/Getty

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Rafael Uzunian
Rafael Uzunian
Coordenador do Euro Fut, roteirista no YouTube, sofrendo com Santos e Arsenal.
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