Times Imortais: Nottingham Forest de Brian Clough

Esse artigo foi escrito originalmente como roteiro para o vídeo acima do canal Euro Fut.

A história de hoje é uma das mais incríveis e improváveis do futebol, quando um clube pequeno da Inglaterra se junta a um técnico extremamente carismático e, juntos, vencem a Champions League duas vezes seguidas. Esse é o Times Imortais: o Nottingham Forest de Brian Clough.

O polêmico e carismático Brian Clough

Foto: PA Images/Getty, Mirrorpix/Getty

Se a gente vai falar do Nottingham Forest, tem que começar com o cara responsável por levar o clube aos olhos do mundo inteiro: Brian Clough.

Antes de ser técnico o Clough foi jogador, e diferente de vários outros ele era realmente bom de bola: a maior parte da sua carreira foi no Middlesbrough, time de sua cidade natal, onde jogou por 6 anos e marcou incríveis 204 gols em 222 partidas! São números impressionantes, com ele sendo até hoje um dos maiores artilheiros do clube, só que aos apenas 27 anos de idade ele acaba tendo uma lesão que o faz pendurar as chuteiras, e assim pouco tempo depois começa a sua carreira como técnico.

Depois de começar no Hartlepool United, é no Derby County que ele se consolida como um grande treinador, tirando o Derby da segunda divisão e levando o clube a vencer o Campeonato Inglês pela primeira vez na história – na temporada 71/72 – já dando indícios do tipo de milagre que ele conseguia fazer. 

Nem tudo eram flores, e essa passagem já deu um gostinho do Clough mais polêmico, com diversos comentários maldosos – como quando chamou um goleiro de “palhaço com luvas” – histórias envolvendo a demissão de funcionários do clube por estarem dando risada depois de uma derrota, e em brigas com a diretoria do clube, culminando na sua saída em 1973. 

Ele tava bem famoso nessa época, e era tão conhecido por ser marrento que até “tomou uma dura” de um dos maiores atletas de todos os tempos: o boxeador Muhammad Ali enviou um vídeo falando algo do tipo “tão dizendo que você fala muito, fica na sua aí”, no que o Clough respondeu que não ia parar e que queria até lutar com ele!

Apesar disso as coisas não tavam dando muito certo: ele foi para o Brighton, que jogava a terceira divisão, onde ficou apenas 9 meses e acabou saindo de novo, dessa vez para o Leeds, no que parecia que tinha caído para cima, afinal foi da terceirona para um time que havia acabado de vencer o Campeonato Inglês.

Mas foi um completo desastre: sua passagem no Leeds durou apenas 44 dias, tão ruins e polêmicos que virou até um filme: “The Damned United”, ou Maldito Futebol Clube, que conta tudo das brigas e controvérsias que fizeram o Clough ser demitido pouco mais de um mês no cargo.

Ele disse depois que o motivo da saída do Brighton foi a oportunidade de vencer uma Copa Europeia com o Leeds hoje a Champions League um título que queria muito ganhar. 

Quando ele fracassa, é mandado embora, e depois assume um time pequeno que jogava a segunda divisão inglesa, parecia que esse seu sonho estava então cada vez mais longe de ser realizado. Mas esse time da segunda divisão era o Nottingham Forest, e o sonho na verdade tava só começando.

O começo no Nottingham Forest

Foto: PA Images/Getty

O Nottingham Forest é um dos clubes mais antigos do futebol, fundado em 1865, mas mesmo assim sempre foi um time pequeno da Inglaterra, e de título relevante tinha ganhado apenas a FA Cup em duas ocasiões. Quando em 1975 o clube anuncia a contratação do Brian Clough, parecia ser uma combinação perfeita: é verdade que ele vinha de trabalhos ruins, mas o que ele fez com o Derby lá atrás – sair da segunda divisão pra vencer a primeira – era exatamente o que o Forest precisava.

Sua primeira temporada não foi nada demais, e o time acaba terminando em 8º na Segunda Divisão. Para a segunda temporada, o time teve uma chegada que ajudou e muito o treinador: o auxiliar técnico Peter Taylor, o grande braço direito do Clough.

Eu não sou qualificado para treinar sem o Peter Taylor. Eu sou a vitrine e ele é a mercadoria.

Brian Clough

A história dos dois anda lado a lado: quando o Clough começou a jogar no Middlesbrough o Taylor era o goleiro reserva do clube, treinando direto com o jovem atacante que não tava tendo chances como titular. Assim o Taylor, que era mais experiente e influente lá dentro, ficou muito amigo do Clough e convenceu o técnico a dar uma chance pra ele, que quando entrou no time nunca mais saiu e se tornou aquele grande artilheiro.

Vários anos depois, o Brian Clough começou a treinar o Hartlepool e chamou o Taylor pra ser seu auxiliar, o acompanhando também depois na passagem vitoriosa pelo Derby. Eles vão juntos para o Brighton, mas quando o Clough sai pra treinar o Leeds o Peter fica e assume o time como treinador.

Muito se diz inclusive que todo aquele fracasso em Leeds se deu pela falta do assistente para balancear o Brian, sendo o toque mais humano pro disciplinador treinador. Agora então em Nottingham eles tavam juntos de novo e essa parceria deu certo mais uma vez, com o Forest conseguindo o acesso para a Primeira Divisão.

Muitos podiam achar que o time brigaria pra não cair, mas o momento era bom, especialmente com a contratação do goleirão Peter Shilton, já considerado na época um dos melhores da Inglaterra; do “carniceiro” Kenny Burns, que tava jogando de atacante e era até artilheiro, mas foi convertido em zagueiro no Forest, e do baixinho escocês Archie Gemmill, um meia canhoto extremamente habilidoso.

O time vai ganhando e ganhando, e cada vez mais ficava claro que ali tinha alguma coisa especial, com um futebol ofensivo colocando o time no topo na tabela, mas o que não significava necessariamente que o Clough era um gênio tático ou algo do tipo: sua filosofia era mais simples e se baseava principalmente na maneira como ele lidava com os jogadores, dando motivação e confiança para aqueles que precisavam e baixando a bola de quem tava se achando demais. E ele não revolucionou a dieta dos atletas nem nada assim, inclusive volta e meia levava os jogadores pra tomarem uma cerveja e comer um peixe frito.

Ele aceitava se você errasse um domínio, ele aceitava você chutar pro gol e errar o alvo, mas ele não aceitava você não dar o seu melhor.

Martin O’Neill, no documentário I Believe in Miracles

Ele também não tinha painel tático com instruções detalhadas de posicionamento ou algo do tipo. Em vez disso, ele chegava pros caras e falava: “ó, você toca a bola”, “você chuta pro gol”, simples assim. Mais simples ainda era a instrução “toca pro John Robertson que ele resolve”. E é hora de falar justamente no craque desse time.

John Robertson, o Picasso da equipe

Foto: Bob Thomas/Getty

John Robertson era um meia escocês que começou profissionalmente no Forest e lá jogou por quase toda sua carreira. Só que quando o Clough chega em Nottingham, o Robertson tava escanteado e na lista de transferências, prontinho pra sair. O técnico viu potencial nele, trocou ele do meio-campo pra ponta esquerda e colocou no time principal. É quando o Peter Taylor chega que ele se consolida como o cara do time, um jogador que não era rápido mas driblava bem, chutava com as duas pernas e batia na bola como poucos.

Com campo para jogar ele era um artista. O Picasso do nosso jogo.

Brian Clough

Com ótima defesa e pontas habilidosos o time continua vencendo, mas mesmo no topo da tabela ainda existiam dúvidas se eles conseguiriam se segurar e ganhar o título. É então na 20ª rodada que acontece o jogo mais marcante daquela temporada, quando o Forest trucida o Manchester United em pleno Old Trafford lotado, com um 4×0 fora o baile com direito a gol contra, um do Robertson e dois do artilheiro Tony Woodcock, que além de vitória foi uma resposta: sim, eles eram favoritos ao título.

Depois desse jogo o Forest não perdeu mais, vencendo também a Copa da Liga em cima do Liverpool – que comandado pelo Bob Paisley era o melhor time inglês naquele período – com um gol de pênalti do Robertson. Não demorou muito depois disso para também garantir a Liga Inglesa pela primeira vez na história, terminando o campeonato com 7 pontos de vantagem ao segundo colocado – mais uma vez o Liverpool – se classificando então para a Copa Europeia também pela primeira vez. 

O Robin Hood do futebol

Foto: Ross Kinnaird – EPICS/Getty

Esse time não foi invencível por nenhuma temporada completa, mas começando do meio dessa pro da temporada seguinte, passou 42 partidas sem perder, recorde no país até o Arsenal dos Invencíveis.

Você deve conhecer a lenda do Robin Hood, que roubava dos ricos pra dar para os pobres. Mas o que você talvez não saiba é que na história o Robin Hood é o herói de Nottingham, roubava dos ricos da cidade e justamente o covil dos ladrões ficava em Sherwood Forest, uma floresta folclore da região e que acabou dando origem ao nome do clube.

Não é nenhum absurdo comparar o príncipe dos ladrões ao Brian Clough, que “roubou” o título inglês dos ricos – o gigante Liverpool por exemplo – e deu aos “pobres”, o pequeno Nottingham, que tinha acabado de subir da 2ª Divisão.

Era o Robin Hood da vida real, que alguns anos antes foi alvo de piadas quando dizia que queria vencer a Copa Europeia e acabou indo para a segunda divisão, mas que agora deu a volta por cima e ia finalmente tentar conquistar seu principal objetivo.

A primeira conquista Europeia

Foto: Bob Thomas/Getty

A temporada 1978/79 do Nottingham Forest seria então a mais especial de sua história, já que a equipe iria disputar o título europeu pela primeira vez. Há que se lembrar de que naquela época só o campeão de cada país disputava a Champions, então era uma parada muito rara, especialmente pros jogadores de um time que tava na segunda divisão alguns anos atrás.

Nessa hora então eles já começaram a fazer as malas e antecipar o primeiro destino rumo a taça, que nessa época começava direto do mata-mata. Será que a gente vai visitar Roma e ver o Coliseu? Ou passear por Milão, Mônaco ou Madrid?

Aí sai o sorteio e o primeiro adversário é… o Liverpool, no que foi um baita balde de água fria. Primeiro porque toda a graça da competição é visitar países europeus diferentes, em confrontos que nunca aconteceram antes, e eles foram lá e justamente pegaram um time que já jogaram contra centenas de vezes.

E segundo porque o Liverpool era o favorito pra vencer a Copa, já que era o atual bicampeão dela – venceu em 76/77 e 77/78 e justamente por isso também se classificou para essa edição.

Era o Nottingham sendo subestimado de novo? Sim. Mas até que fazia sentido, muitos achavam que o título na temporada passada foi um lampejo, e que agora contra o bicampeão europeu ele iria acabar.

O time que conquistou a Europa

Antes de falar sobre o confronto, dá pra gente dar uma passada rápida pelo time titular que enfrentou os Reds e que em grande parte foi o time dessa campanha:

No gol Peter Shilton, na lateral-direita Viv Anderson, aí os zagueiros Kenny Burns e Larry Lloyd, com Colin Barrett na lateral-esquerda. No meio campo o volante e capitão John McGovern era acompanhado por Ian Bowyer, enquanto o John Robertson jogava aberto pela esquerda com o Archie Gemmill pela direita, seja como meias abertos ou pontas. Na frente, o camisa 10 Tony Woodcock fazia dupla com Garry Birtles, que veio substituir Peter Withe, que tinha acabado de sair para o Newcastle.

Os nervos estavam à flor da pele para esse jogo, mas é nesse momento em que o Clough se destacava, motivando os jogadores dizendo que “eles é que tinham que ter medo da gente”, lembrando que o Liverpool foi duas vezes vice deles na temporada passada, por que não vencer eles mais uma vez?

No jogo de ida, o Nottingham em casa no City Ground faz então uma exibição que entrou pra história, com o Birtles fazendo seu primeiro gol pelo clube e o Barrett no finalzinho marcando um golaço de voleio, levando no 2×0 uma baita vantagem para o jogo de volta. Em Anfield o Liverpool pressionou buscando a virada, mas o Peter Shilton foi uma muralha, segurou o 0x0 e assim o Forest derrubava o atual campeão e avançava para a próxima fase.

Se antes os jogadores estavam nervosos, agora a moral estava lá no alto. Na oitavas eles pegavam o AEK Athens da Grécia, no que seria a primeira viagem internacional desse grupo. O time de Atenas era comandado por uma lenda: Ferenc Puskas, mas mesmo um pouco intimidados, os homens de Clough venceram a partida 2×1 com gols de McGovern e Birtles – o que dava um alívio pro jogo de volta, em casa.

Em Nottingham, o Forest jogou com um time um pouco misto, com as entradas de Frank Clark na lateral-esquerda, Dave Needham na zaga e O’Hare no lugar do McGovern. É verdade que o Puskas foi um dos melhores jogadores de todos os tempos, mas como técnico deixava a desejar: mesmo um pouco desfigurado, o time meteu um chocolate pra cima dos gregos, 5×1 com gols do Needham, Woodcock, Viv Anderson e doblete do Birtles, numa confortável classificação para a próxima fase.

Na Liga Inglesa o time não vinha conseguindo repetir a campanha passada, mas isso agora pouco importava: nas Quartas da Copa Europeia pegava o Grasshoppers da Suíça, que na última rodada eliminou o poderoso Real Madrid, ou seja, a promessa era de jogo duro. Na Inglaterra e com a entrada do meio-campista Martin O’Neill pro lugar do Bowyer, o Nottingham começou perdendo, mas conseguiu a virada com Birtles e John Robertson, de pênalti, no que no finalzinho Gemmill e Lloyd marcam também pra levar o 4×1 e a ampla vantagem pro jogo de volta.

Na Suíça o Forest saiu perdendo novamente, mas empatou com o O’Neill e segurou o 1×1 que garantiu mais uma classificação inédita: agora para as Semis. 

A contratação que não podia jogar

Foto: Paul Popper/Getty

Antes desse jogo, vale a pena falar de uma badalada contratação do time que eu ainda não tinha mencionado: Trevor Francis, um meia-atacante que também jogava pela direita e era o craque do Birmingham City. No começo dessa temporada, o Clough tinha contratado o Francis do Birmingham pela bagatela de 1 milhão de libras – na época quebrando o recorde de contratação mais cara do futebol inglês, a primeira a chegar na marca do milhão.

Só tinha um problema: deu alguma treta que o clube não conseguia registrar ele, e assim ele não pôde jogar por algumas competições, inclusive a Copa Europeia. 

O tempo vai passando e ele ainda não faz parte do time que iria enfrentar o Colônia, da Alemanha, na semifinal. O jogo de ida foi em casa, mas mesmo assim uma baita pedreira pro Forest, no que seria o mais difícil daquela temporada: em um lamaceiro danado o Colônia vai vencendo com dois gols logo no começo, em umafragilidade defensiva muito rara do time da casa. Nessa hora tudo parecia perdido: era o melhor time da Alemanha, um dos favoritos pra vencer a competição, passando o trator em plena Inglaterra.

É aí que o Clough se destaca. Ele fala: “o jogo ainda não acabou”.

Tony Woodcock em I Believe in Miracles (2015)

E eles eram resilientes: o Birtles diminui ainda no primeiro tempo e no segundo eles viram com Ian Bowyer e John Robertson, no que o Colônia ainda empata de novo no finalzinho num frangaço atípico do Shilton, mas com um 3×3 que dava ainda uma pontinha de esperança.

O jogo de volta lá na Alemanha seria duríssimo, já que o time alemão tinha a vantagem dos gols fora, mas nas palavras de Brian Clough: “Nós sempre pensamos que vamos vencer”. E com essa mentalidade a sua equipe luta e resiste até o final, quando no segundo tempo abre o placar com Ian Bowyer, de cabeça, num suado 1×0 que classifica o Nottingham para a final da Champions.

A derradeira final era então contra o Malmo da Suécia, no momento mais aguardado da história do clube. Jogar uma final de Champions é um momento especial para qualquer equipe, mas pra uma que tava na Segunda Divisão alguns anos antes? Era um milagre. 

Eu jogava na rua, nunca na minha vida imaginei que jogaria uma final de Copa Europeia” .

Kenny Burns, I Believe in Miracles (2015)

Sentindo o nervosismo dos jogadores, o Clough resolveu levar o time para Mallorca pra se preparar para a partida. Mas nada de instrução tática: eles treinavam de tarde e aí enchiam a cara de noite! Isso hoje parece um absurdo, mas foi uma maneira de aliviar a pressão daquela partida.

30 de Maio de 1979. Em Munique, a final teve no time titular uma grande mudança: no lugar do Gemmill, entrava Trevor Francis pra fazer finalmente a sua estreia na Europa. Muitos estranharam, afinal pra que mexer em time que está ganhando? Mas ele estava doidinho pra provar que o Clough tomou a decisão certa. 

O jogo era lá e cá, e quando um time tinha a posse da bola ele já mandava um chutão pros atacantes resolverem, sem essa de saída sustentada ou troca de passes no meio campo. Logo no começo, um vacilo do Kenny Burns quase dá o gol ao Malmo, mas o Shilton consegue pegar. O Forest era superior, e já no finalzinho do primeiro tempo o Robertson faz uma jogadaça pela esquerda, dribla dois como só ele conseguia e cruza na cabeça do iluminado Francis, que abre o placar e marca o gol da vitória inglesa. 1 milhão ficou barato, o jogo acaba 1×0 e o título da Copa Europeia era do Nottingham Forest pela primeira vez na história, numa das maiores proezas já vistas no futebol.

A gente colocou Nottingham no mapa.

Peter Shilton, I Believe in Miracles (2015)

Foi festa em Nottingham, com esse time comandado por Brian Clough e Peter Taylor já entrando na história do país e agora do continente. Se fosse só isso já tava bom. Mas tinha mais.

O Nottingham Forest bicampeão europeu

Agora, eles tinham uma missão que só não era improvável porque tinha que ser maluco pra duvidar desses caras: defender o título europeu.

Para a temporada 79/80, a equipe sofreu algumas alterações: depois do Gemmill ser banco na final, o escocês não gostou de perder a vaga e acabou tretando com o Clough, no que ele nunca mais jogou pelo clube e saiu para o Birmingham. Na lateral-esquerda, Frank Clark se aposentou e o Barrett saiu, com o Frank Gray chegando do Leeds para a posição. Teve também a ascensão de Gary Mills, atacante da base do clube que passou a participar mais nessa temporada.

O Forest tinha sido o vice-campeão inglês na temporada passada e, por mais que tenha começado essa voando, acabou perdendo muitos jogos e parou de disputar o título ainda pelo meio do campeonato. O que restava então era a campanha na Europa.

Na primeira rodada da Copa Europeia, os campeões de Clough pegavam o Öster da Suécia, ganhando em casa por 2×0, com dois do Bowyer, e na volta empatou no final com Woodcock, 1×1 e a classificação pras oitavas.

Agora, o Forest enfrentava o Arges Pitesti da Romênia, num jogo que não prometia ser difícil e realmente não foi: em casa vence por 2×0, com Woodcock e Birtles marcando no comecinho, e na Romênia marca com Bowyer e McGovern num 2×1 que encaminha a classificação pras quartas.

Chegava o meio da temporada e o time teve algumas mudanças: um dos jogadores mais importantes dessas últimas campanhas, Tony Woodcock saiu para o Colônia. Pro lugar dele veio o polêmico Stan Bowles, do Queens Park Rangers.

As quartas de final da Copa Europeia eram contra o BFC Dynamo da Alemanha Oriental, e esse primeiro jogo foi muito marcante para a equipe: com Bowles no lugar do Woodcock, o Nottingham vai mal e perde em casa por 1×0, no que foi a primeira derrota da história do clube na competição.

Agora em Berlim, o Forest precisava de uma partida inspirada pra virar esse jogo e ela veio: brilha a estrela de Trevor Francis, que marca dois logo no começo, com mais um de pênalti do Robertson para vencer por 3×1 e avançar na competição.

As semis eram contra o Ajax, um dos maiores times da história da Champions. Mas o Forest tava inspirado, e em casa vence por 2×0 com gols das duas estrelas da sua equipe, Francis e Robertson. Em Amsterdam o time inglês perde por 1×0, mas isso não impede a sua classificação pra mais uma final de Copa Europeia.

A segunda final

Foto: Getty

A final seria contra o Hamburgo, e o clima tava tenso por vários motivos: primeiro que o time alemão vinha forte, tendo derrotado o Real Madrid por 5×1 pra avançar para a final. Segundo porque um dos craques do Forest e o cara da última final, Trevor Francis, rompeu o tendão de aquiles e estava fora da decisão. 

E a concentração de novo foi inusitada: dessa vez o técnico queria tanto tirar a cabeça deles da partida que nem treinou e proibiu os jogadores de sequer levarem uma bola de futebol! O Shilton teve que implorar pra poder treinar, achou umas bolas e conseguiu se preparar, mas o resto ficou só na diversão mesmo.

Um dos pontos fortes do Hamburgo era o lateral-direito Manny Kaltz. Perguntado se ele daria trabalho, o Clough respondeu: “Nós temos um gordinho que vai virar ele do avesso” – se referindo no caso ao John Robertson.

28 de Maio de 1980. No Santiago Bernabéu em Madrid, o Forest foi com Shilton no gol, Viv Anderson, Burns, Lloyd e Gray; McGovern e Bowyer no meio-campo, O’Neill na direita, Robertson na esquerda e Birtles e Gary Mills no ataque. 

O Hamburgo começa o jogo muito melhor, criando chances e obrigando o time inglês a se defender, até que o John Robertson faz uma jogadaça pela esquerda, corta pro meio numa tabelinha com o Birtles e chuta pro gol, abrindo o placar com um golaço. Parecia predestinado: o craque do time, marcando depois de ter recebido uma menção especial do Clough antes da partida.

Se eles já tavam tomando pressão do Hamburgo agora ela ficou ainda maior, e então o Forest faz uma exibição defensiva de gala, botando todo mundo para trás pra impedir o gol alemão, com os zagueiros fazendo o jogo da vida deles e especialmente o Shilton, que fez diversas defesas difíceis pra manter a vitória. No final eles tavam tão exaustos que o Birtles perde um gol cara a cara com o goleiro, mas isso de nada importou: 1×0 e o Nottingham Forest era bicampeão europeu, realizando um dos feitos mais incríveis de toda a história do futebol.

Você ganha uma vez e eles dizem que é sorte. Você ganha duas e cala a boca deles.

Brian Clough

O fim da Era Clough

Foto: Lewis Strickley/Getty

Toda história tem que ter um fim, e o dessa equipe foi extremamente melancólico.

Chega a próxima temporada, e na primeira fase da Copa Europeia o Forest enfrentava o CSKA Sofia da Bulgária, perde de 1×0 no primeiro jogo e mais uma vez de 1×0 no segundo pra ser eliminado precocemente. E o pior: essa foi a última vez em que o time de Nottingham disputou a competição.

O clube não foi o mesmo depois disso, e saíram Larry Lloyd, Birtles, O’Neill e Bowyer, quatro titulares importantíssimos dessas conquistas, com as reposições não correspondendo à altura. Da última vez o time tinha terminado em 5º na Liga, dessa vez acabaram em 7º, nunca mais vencendo a competição. Nos próximos anos, outros dos jogadores importantes como o Shilton, Kenny Burns e Trevor Francis também vão deixando o clube.

Mas talvez a saída mais doída foi a do auxiliar Peter Taylor. Depois da final em Madrid, o Taylor tinha escrito uma biografia – “With Clough by Taylor” contando um pouco da sua história com o técnico, mas sem avisar pro Clough. Ele ficou muito irritado e a relação deles começou a implodir.

Para piorar, o Taylor sai do Forest e se aposenta, só que pouco tempo depois ele volta atrás e aceita comandar o Derby. Lá ele contrata para o clube o John Robertson, com o Clough só sabendo disso quando ele já tinha assinado o contrato. Assim, a rixa entre eles virou uma relação de ódio.

Se juntos formaram uma das melhores duplas técnicas do futebol, separados nunca conseguiram ter sucesso. E infelizmente essa rixa nunca se resolveu: em 1990, Peter Taylor passava as férias em Mallorca quando subitamente faleceu, sem nunca ter se reconciliado com seu velho amigo.

No comando do Forest, o Clough nunca chegou perto de repetir as glórias do passado, e se antes ele adorava beber uma pra relaxar ou aliviar a pressão, agora a bebida fazia parte de um vício. Depois do bicampeonato europeu ele passou mais de uma década treinando o clube, mas ganhou apenas um par de Copas da Liga. 

Em 92/93, sua última no comando do Nottingham, o Clough parecia derrotado, longe daquela figura carismática do passado. Era o fim de um ciclo: depois de subir o time de divisão e ganhar tudo aquilo, agora o técnico via seu time ser rebaixado para a Segunda Divisão. E por ironia do destino, o último gol marcado pelo Forest com ele no comando foi de Nigel Clough, seu filho.

Em 2004, Brian Clough faleceu depois de um câncer no estômago. Era luto em todo o país, mas especialmente para três torcidas: a do Middlesbrough, onde é um dos maiores artilheiros; do Derby, onde tirou o time da segunda divisão e venceu a Liga Inglesa; e claro, do Nottingham Forest, onde passou 18 anos e lá venceu quatro Copas da Liga Inglesa, uma Supercopa Inglesa, uma Supercopa da UEFA, uma Liga Inglesa e claro, foi bicampeão europeu

Sem dúvida alguma, o Nottingham Forest de Brian Clough é um Time Imortal do futebol.

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Rafael Uzunian
Rafael Uzunian
Coordenador do Euro Fut, roteirista no YouTube, sofrendo com Santos e Arsenal.

Vale a pena conferir

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