No futebol atual, em qualquer lugar do mundo que seja, todos conhecem o clube chamado Bayern de Munique. Um predador nacional e continental, que tem uma identidade singular que o diferencia de qualquer clube do mundo: algo que ao longo dos anos fez sua camisa vermelha ser símbolo de poder.
Não à toa, comumente recebe imponentes adjetivos antes de seu nome. “O poderoso Bayern de Munique”, “O Gigante da Baviera”, “O Rolo Compressor da Alemanha”. Mas antes disso tudo, havia só o modesto Bayern de Munique… até os maiores jogadores alemães da história, como que num toque de mágica, surgirem ao mesmo tempo na Baviera.
Neste episódio da série Times Imortais, você vai conhecer a história do Bayern de Munique da década de 70, uma equipe que reinou na Alemanha, na Europa, e no mundo.
O Surgimento da Geração de Ouro
Lá na década de 1960, a imagem do Bayern de Munique estava extremamente distante do que a de hoje em dia. O clube que hoje ostenta 31 conquistas da Bundesliga, que atualmente lidera a dinastia mais assombrosa do futebol europeu, caminhando pra um decacampeonato seguido em sua liga, era nada mais que um mero coadjuvante do futebol alemão.
O Bayern, fundado em 1900, tinha conquistado apenas um campeonato alemão em toda a sua história, na longínqua temporada 1931-32. Para se ter uma ideia, nos dois primeiros anos da fundação do campeonato alemão com o nome de Bundesliga, ali no início dos anos 60, o clube sequer estava a disputando, já que frequentava a segunda divisão do futebol nacional.
Já no cenário europeu, a coisa não era diferente. O Bayern jamais tinha chegado sequer a uma semifinal de Champions League, feito que na época já havia sido atingido pelos conterrâneos Hamburgo e Borussia Dortmund, além do Eintracht Frankfurt que já havia sido vice-campeão da competição.
O Bayern de Munique era um dos grandes símbolos esportivos de uma das principais cidades da Alemanha, mas quando se olhava para o macro do futebol no país e no continente, passava longe de ser a potência que é hoje. O Bayern sequer era o principal clube de Munique: ficava na sombra do hoje modesto 1860 Munique, o rival local que era mais relevante naquela época, ganhando Copa da Alemanha, Bundesliga e participando em competições europeias.
Para esse cenário mudar, precisava haver uma grande união de fatores, como a chegada de um grande técnico e a ascensão de uma grande geração oriunda do próprio clube. E foi justamente o que aconteceu.
A mudança
Josef Dieter Maier, ou simplesmente Sepp Maier, foi o goleiro daquele Bayern. O alemão chegou nas categorias de base do clube em 1959 e, desde então, dedicou toda a sua vida no mundo do futebol a defender apenas o escudo do clube da Baviera, além de também ter se tornado um ícone da Seleção da Alemanha Ocidental. Se tornou profissional em 1962 e, portanto, acompanhou o Bayern desde a segunda divisão até a elite do futebol nacional.
Dois anos depois, outro brilhante jovem da base dos Colorados da Alemanha subiu para a equipe principal, para se tornar também um dos líderes do clube. E isso mesmo muito jovem, porque esse homem em especial nasceu para liderar: seu nome era Franz Beckenbauer, um defensor absurdamente técnico e inteligente que jogava na extinta função de líbero.
Não demoraria muito para começarem a chamá-lo por outro nome: o de Kaiser. Alcunha que ele ganharia no fim dos anos 60, quando já despontava como um dos principais atletas do futebol alemão.
No mesmo ano que o Kaiser se tornou profissional do Bayern, 1964, o clube trouxe um jovem e promissor atacante que começava a se destacar no Nordlingen, que jogava em divisões mais baixas.
Era a chegada de Gerd Müller, o atacante tão mortal que um dia viria a ganhar a alcunha de Bomber. A união desses 3 jovens alemães foi o ponto de inflexão no surgimento de um poderoso Bayern de Munique, uma sorte geracional tão grande que parece até conspiração do destino.
Como primeiro indício, eles ajudaram o clube a vencer o seu primeiro campeonato alemão na Era Bundesliga sob o comando do croata Branko Zebec na temporada 1968-69, e com o Gerd Müllersendo artilheiro com incríveis 30 gols anotados, muito para os seus 23 anos de idade na época.
Der Bomber seria mais uma vez artilheiro na edição seguinte, dessa vez anotando incríveis 38 gols, desempenho fenomenal que o fez ser coroado como o Bola de Ouro da France Football de 1970, mesmo sem ter vencido a Bundesliga. Aos poucos, as evidências deixavam muito claro que o Bayern tinha em suas mãos uma verdadeira geração de ouro.
Mas a mente por trás do melhor Bayern de todos os tempos não foi o técnico Branko Zebec, mesmo tendo conquistado a primeira Bundesliga do clube. Na maior parte do tempo, foi o treinador Udo Lattek.
O alemão assumiu o clube da Baviera em março de 1970, substituindo Zebec no meio da temporada. Aquele seria o seu primeiro trabalho como técnico principal de uma equipe, após ter passado um período como auxiliar técnico da Seleção da Alemanha. Havia muita desconfiança em torno de Lattek, mas ele tinha algo crucial para um técnico vencer: o apoio do grupo e das principais lideranças do time – Maier, Franz Beckenbauer e Gerd Müller. Dizem até que Lattek chegou ao Bayern por indicação do Kaiser, que já tinha moral o bastante pra indicar qual caminho o clube seguiria.
O Início do Império Bávaro
No mesmo ano de 1970 em que Lattek assumiu o Bayern, chegaram outros dois craques ao clube, que também seriam peças importantíssimas da dinastia que estava por vir: Uli Hoeneß e Paul Breitner, com este último sendo cria das categorias de base do Bayern.
Hoeneß veio do pequeno Ulm e era um jogador de ataque, que caía mais pela direita, mas era capaz de fazer outras funções em outras posições do ataque.
Breitner era um jogador muito polivalente, capaz de jogar tanto como lateral esquerdo quanto como meio-campista. Podemos dizer que Maier, Beckenbauer, Breitner, Hoeneß e Müller eram as estrelas primordiais daquele time.
A primeira grande conquista do Bayern sob o comando de Udo Lattek viria na temporada 1971-72, que foi a terceira conquista de campeonato alemão da história do clube bávaro.
Nessa campanha, o Bayern marcou o absurdo número de 101 gols, sendo que 40 deles foram marcados por Gerd Müller, feito que estabeleceu um recorde que você provavelmente já ouviu falar, pois esse número só veio a ser batido por Robert Lewandowski na temporada 2020-21 quando o polonês fez 41 gols na Bundesliga. Foram quase 50 anos pra essa marca assombrosa do Bomber ser alcançada.
Também nessa temporada, o Bayern emplacou a maior goleada da história de um campeão alemão, que foi justamente contra o rival Borussia Dortmund: 11-1. Quem vê o Bayern hoje em dia metendo só 4 ou 5 no Borussia, não sabe como já foi pior um dia. Ao fim do ano de 1972, o Bayern viu outro de seus craques ser eleito o Bola de Ouro da France Football: dessa vez o Kaiser Franz Beckenbauer, que teve Müller o acompanhando em 2º lugar do pódio.
O ano de 1972 foi ainda mais especial para o Bayern por dois motivos:
Primeiramente, esse Bayern é ligado de forma neural à seleção alemã da época, com a história começando na Eurocopa de 1972, vencida pela Alemanha Ocidental já com 6 titulares do Bayern entre os 11 iniciais.
E depois porque foi o ano da inauguração do Estádio Olímpico de Munique, construído durante anos para os Jogos Olímpicos de Verão de 1972.
Ele virou casa tanto para o Bayern quanto para o 1860 Munique, e agora o time bávaro teria um palco à altura para o tamanho do futebol que praticava.
E talvez como uma identificação do que viria pela frente, o estádio foi inaugurado com vitória de 4×1 da Alemanha Ocidental pra cima da União Soviética em amistoso. Os 4 gols foram de Gerd Müller, que dali pra frente tomaria gosto por repetir a dose.
Bayern de Munique de volta à Europa
Naquela época, a Champions League era literalmente uma competição de campeões, e como tal admitia apenas as equipes que haviam conquistado o campeonato de seu país. Assim, com o título da Bundesliga de 1971-72, o Bayern de Udo Lattek assegurava vaga na próxima edição, que seria apenas a segunda participação do clube na história do torneio, e quando viriam a ter o seu primeiro grande teste de fogo no cenário europeu, sendo já a equipe imponente que eram.
Na Alemanha, em 1972-73 o time conquistou pela primeira vez um bicampeonato seguido da Bundesliga, tendo mais uma vez Der Bomber como artilheiro da competição com 36 gols.
Na Champions avançaram até às quartas de final, eliminando o Galatasaray e o Omonia nas duas primeiras eliminatórias. Só que nas quartas o buraco foi muito mais embaixo. O adversário era o bicho papão da Europa na época, o Ajax de Johan Cruyff e o Futebol Total – bicampeão vigente da Europa. Era um confronto de duas escolas distintas e que estava recheado de craques.
O Bayern de Lattek com um futebol agressivo, de velocidade, intensidade, disciplina tática, controle, que não tinha nenhum problema em defender e explorar a enorme velocidade e letalidade de Hoeneß e Müller nos contra-ataques. E o Ajax de Stefan Kovacs, com suas características singulares, de pressão o tempo todo e movimentação frenética que simbolizava o Futebol Total, presente na equipe mesmo que Rinus Michels não fosse mais o treinador.
Mas apesar da enorme força de ambos os lados, o que se viu na partida de ida foi um baile: o Ajax venceu por 4×0 em Amsterdã, praticamente matando o confronto.
No jogo de volta, o Bayern até consegue vencer por 2×1, mas acaba eliminado pela soma. Apesar da grande derrota, o confronto foi um marco no futebol europeu, pois ficou claro que aquelas eram as duas equipes mais fortes da competição.
Gerd Müller acabou artilheiro da competição com 11 gols, mesmo caindo nas quartas de final.
Naquele ano, o Ajax fechou um tricampeonato seguido da Champions League, mas Johan Cruyff partiu para jogar no Barcelona e assim a equipe decaiu. O caminho estava livre pra um novo time reinar e não havia candidato melhor do que o Bayern de Munique.
A temporada de 1973-74 seria especial, pois culminaria na disputa da Copa do Mundo de 1974. E pra sorte da Seleção Alemã Ocidental, o Bayern de Munique, que já estava numa enorme curva ascendente há alguns anos, atingiria o seu ápice justamente nessa temporada.
Aqui é importante destacar como era algo precioso que uma equipe só reunisse diversos craques naquela época, antes do futebol ser essa salada onde uma equipe só reúne jogadores de diversos países no mundo inteiro. Essa concentração acabava beneficiando demais as Seleções, que receberiam um time base já entrosado e que se conhecia.
O Bayern tinha a melhor geração de jogadores alemães da história, e isso fez com que a Alemanha chegasse mais forte do que nunca para a disputa do Mundial de 74. Os jogadores bávaros iniciavam a caminhada daquela temporada repletos de convicção de que poderiam chegar mais fortes para a disputa da Champions, para colocar Munique no mapa da Europa e, mais tarde, no mapa do mundo.
O Reinado Bávaro
Na Bundesliga, os bávaros tiveram um duelo até o fim pelo título com o forte Borussia Mönchengladbach do artilheiro Jupp Heynckes – aquele mesmo técnico do Bayern na tríplice coroa de 2013. A disputa foi até a última rodada, com o Bayern se consagrando tricampeão alemão seguido com 49 pontos, apenas 1 a mais que o Mönchengladbach.
Na artilharia do torneio, a disputa não foi menos acirrada, e acabou tendo dois nomes: Gerd Müller, obviamente, e Jupp Heynckes, ambos com 30 gols. A equipe de Udo Lattek estava mais do que consolidada na Alemanha, tinha se tornado uma potência local, o que faltava era a cereja do bolo: conquistar a Europa.
Na Champions League de 1973-74, o atual tricampeão seguido, Ajax, não resistiu a perda irreparável de Cruyff e acabou vendo o sonho do tetra acabar cedo, caindo na segunda fase eliminatória contra o modesto CSKA Sofia, da Bulgária. Assim, não havia dúvidas de que o caminho para a conquista do Bayern estava aberto, e os bávaros não deixariam essa chance de ouro escapar.
Passando pelo Atvidabergs da Suécia nos pênaltis e depois pelo Dynamo Dresden da Alemanha Oriental com um incrível 7×6 no agregado, o Bayern chegou às quartas de final para enfrentar justamente o CSKA Sofia, que havia eliminado seu algoz da edição passada.
Mas logo de cara o Bayern matou o confronto, vencendo o jogo de ida por 4×1 e assegurando a classificação, mesmo com a derrota na volta. Na semifinal, passaram por cima do Ujpest, da Hungria, vencendo por 4×1 no agregado.
Assim, o Bayern chegava na final da Champions pela primeira vez em sua história, e era apenas o 2º clube alemão a conseguir tal feito. O rival na decisão seria um time histórico do Atlético de Madrid, do craque Luis Aragonés.
A final aconteceu em 15 de maio de 1974, no Heysel Stadium em Bruxelas. O Bayern foi a campo com Sepp Maier, Paul Breitner na lateral esquerda, na zaga Hans-Georg Schwarzenbeck e o capitão Franz Beckenbauer, com Johnny Hansen na direita. No meio, Jupp Kapellmann, Rainer Zobel, Franz Roth, e na frente Uli Hoeneß, Gerd Müller e Conny Torstensson.
Dessa equipe, os únicos estrangeiros eram o dinamarquês Hansen e o sueco Torstensson, todos os demais eram alemães.
Em campo, o que se viu foi uma partida duríssima, terminando sem nenhum gol no tempo regulamentar. Na prorrogação, aos 114 minutos, Luis Aragonés tirou da cartola um gol de falta e colocou o Atleti com uma mão na taça. Tudo parecia perdido, até que no último minuto da prorrogação, Schwarzenbeck acertou um chutaço de fora da área e empatou a partida.
Naquela época, não havia disputa de pênaltis pra desempatar um confronto, e assim uma segunda partida foi marcada, dois dias depois, no mesmo estádio.
O Bayern foi a campo com a mesma escalação, com o ânimo lá em cima após escaparem da derrota no último lance da primeira partida, enquanto no Atlético foi o oposto. O resultado foi um atropelo dos bávaros: 4×0, com dois gols de Uli Hoeneß, um deles gol de placa, e dois gols de Gerd Müller, um deles por cobertura. O Bayern estraçalhou e foi o primeiro clube alemão campeão da Champions League. Der Bomber foi o artilheiro da edição com 8 gols.
Para coroar definitivamente aquela geração do Bayern de Munique, boa parte daqueles jogadores ainda iriam disputar a Copa do Mundo de 1974, defendendo a Alemanha Ocidental. E quase como se fosse uma revanche do confronto Bayern x Ajax na Champions League de 1972-73, a final acabou sendo entre Alemanha e Holanda.
Dos jogadores titulares da Mannschaft naquela decisão, estavam os bávaros Sepp Maier, Paul Breitner, Hans-Georg Schwarzenbeck, Franz Beckenbauer, Gerd Müller e Uli Hoeness. Mais da metade do time do Bayern! E no fim, eles conseguiram dar o troco nos holandeses pela eliminação na Champions League, vencendo a final da Copa do Mundo de virada por 2×1, com gols de Breitner e Müller. A geração de ouro da Baviera reinava por toda parte: na Alemanha, na Europa e no mundo inteiro.
O Bayern de Dettmar Cramer
No final de 1974, o Bayern fez algo que era relativamente comum naquela época: negou participar do Intercontinental de Clubes e cedeu a vaga ao Atlético de Madrid, que havia sido vice-campeão da Champions. O clube de Munique queria focar todas as suas forças em estender o reinado na Europa e, para isso, contratou um reforço de peso: o craque Karl-Heinz Rummenigge, que chegou para fortalecer ainda mais um ataque que já contava com Müller e Hoeneß.
Rummenigge chegou de um pequeno clube chamado Lippstadt e era um jogador alemão extremamente diferenciado, pois driblava com um refino técnico e uma ousadia enorme, além de ser um atacante muito rápido e goleador. Mas em contrapartida a esse reforço, o Bayern sofreu uma dura perda em seu time titular: o craque da lateral esquerda, Paul Breitner, decidiu se juntar ao Real Madrid, decisão que talvez ele tenha se arrependido depois.
A temporada de 1974-75 foi onde aquele timaço começou a não render o esperado nas mãos do técnico Udo Lattek, e assim ele teve seu ciclo encerrado na metade da época, dando lugar para o também alemão, Dettmar Cramer.
Na Bundesliga, o estrago já estava feito e o caminho aberto pro forte time do Borussia Mönchengladbach ser campeão, tendo Heynckes como artilheiro isolado, um feito e tanto na era do Bomber. O Bayern já havia perdido pontos demais e brigar pelo título era uma missão impossível, tanto que a equipe acabou apenas em 10º lugar na tabela.
O foco total era na Champions League. Como campeão vigente da Champions e da Bundesliga, o time pôde pular uma fase e entrar na competição a partir da segunda fase eliminatória, onde enfrentaram e despacharam o Magdeburg, da Alemanha Oriental.
Nas quartas de final, foi a vez de derrubar o Ararat Yerevan, da Armênia, por apenas 2×1 no agregado. O rival nas semifinais foi o Saint-Etienne, da França, que fez jogo duro mas também caiu por terra. A grande decisão seria contra o Leeds United, da Inglaterra.
A final ocorreu em 28 de maio de 1975, no estádio Parc des Prince, em Paris. O Bayern foi a campo com:
Sepp Maier no gol, Björn Andersson na direita, Hans-Georg Schwarzenbeck, Franz Beckenbauer, e Bernd Dürnberger na esquerda. No meio Franz Roth, Jupp Kapellmann, Rainer Zobel, e na frente Conny Torstensson, Uli Hoeneß e Gerd Müller.
Essa foi uma final extremamente dura, não apenas pelo time do Leeds ser qualificado, mas também pela questão física mesmo. Bjorn Andersson e Uli Hoeneß acabaram sendo substituídos ainda no primeiro tempo por lesões, sendo que o segundo foi uma séria lesão no joelho, consequência de uma das várias entradas violentas praticadas pelo time inglês, que apostava num jogo mais físico do que técnico.
Além disso, o Leeds teve uma chance clara com Sepp Meier fazendo um milagre, e um gol anulado que causou muita confusão durante a partida, com o Leeds acabando prejudicado pela decisão.
Mas no fim, o Bayern se impôs com um gol de Franz Roth, antes do Gerd Müller fechar a conta já na parte final da partida depois de uma jogada velocíssima pela ponta direita. Assim, o Bayern era bicampeão seguido da Champions League, sendo na época apenas o 5º clube a conseguir tal feito.
Pra variar, Gerd Müller foi o artilheiro daquela Champions, com 5 gols marcados. No fim do ano de 1975, o Bayern mais uma vez recusou participar do Intercontinental de Clubes por não conseguir encaixar em seu calendário.
O Bayern tricampeão europeu
Na Bundesliga de 1975-76, com Dettmar Cramer treinando a equipe desde o começo, o Bayern não fez feio como na temporada anterior, mas mais uma vez acabou não conseguindo vencer o campeonato. E adivinha com quem ficou o título? Novamente com o Borussia Mönchengladbach, que fez cinco pontos a mais que o Bayern na campanha. O clube bávaro ficou em 3º lugar na tabela, atrás também do Hamburgo. Mas o fato era que o grande objetivo da temporada era um só: igualar o feito do Ajax e ser tricampeão seguido da Europa.
Por não ser o campeão alemão, dessa vez o Bayern teve que começar a Champions da primeira fase, onde passaram por cima do modesto Jeunesse Esch, de Luxemburgo, vencendo por somente 8×1 no agregado, com direito a 2 gols de Rummenigge, que agora era titular.
Na 2ª eliminatória mandou pra casa o Malmo, da Suécia, num duro confronto vencido por apenas 1 gol de vantagem no agregado.
A partir das quartas de final vieram as pedreiras. Primeiro o Benfica, que tinha tudo pra fazer jogo duro, mas depois de um empate em 0x0 na ida, o Bayern venceu a segunda partida por 5×1.
Na semifinal veio simplesmente o Real Madrid, que havia eliminado o Mönchengladbach na fase anterior, time que teve o artilheiro daquela Champions – Jupp Heynckes, e que naquela época era realmente um time de topo.
Mas nem o maior campeão da Champions, dono de 6 taças na época, foi páreo para os bávaros. O Real de Vicente del Bosque até abriu o placar na ida aproveitando uma falha do Horsmann, mas logo tomou um gol do Müller na ida, mais dois na volta, e pelo terceiro ano seguido o Bayern estava no palco máximo da Europa, e dessa vez o rival na decisão seria o Saint-Etienne, da França.
A final aconteceu em 12 de maio de 1976, no estádio Hampden Park, em Glasgow. O Bayern foi a campo com Sepp Maier no gol mais uma vez, Johnny Hansen, Hans-Georg Schwarzenbeck, Franz Beckenbauer e Udo Horsmann. No meio Jupp Kapellmann, Franz Roth e Bernd Dürnberger. Na frente Uli Hoeneß, Karl-Heinz Rummenigge e Gerd Müller.
Em mais uma final muito difícil, o meio-campista Franz Roth marcou depois de uma roladinha em cobrança de falta do Bayern, aparecendo mais uma vez pra resolver assim como havia feito na final da edição passada.
Não teve jeito, e o gol do Roth no segundo tempo deu números finais ao placar. Assim, o grande objetivo do Bayern estava realizado: o clube era tricampeão seguido da Europa, sendo apenas o 3º a conseguir tal feito depois do Real Madrid e do Ajax. O Bayern enfim estava entre gigantes.
Bayern, Dono do Mundo
O ano de 1976 foi diferente para o Bayern de Munique. Com a conquista do tri europeu, o clube mudou seu posicionamento quanto ao Intercontinental de Clubes e decidiu participar do torneio. O rival seria o campeão da Libertadores daquele mesmo ano, que havia sido o Cruzeiro. A decisão, naquela época, ocorria em partidas de ida e volta, na casa dos campeões. O confronto contava com uma série de estrelas, e além das já citadas várias vezes do futebol alemão, também haviam craques históricos brasileiros do lado da Raposa, como Raul Plasmann, Nelinho, Zé Carlos e Jairzinho.
O primeiro jogo ocorreu no Estádio Olímpico de Munique em 23 de novembro de 1976, e o Bayern não desperdiçou a chance de sair na frente, mas teve pela frente um confronto duríssimo.
Dois gols relâmpagos aos 80 e 82 de Kapellmann e Gerd Müller deram a vitória ao clube bávaro. A partida de volta ocorreu no Mineirão em 21 de dezembro de 1976, e mesmo empurrados por um público insano de 113 mil pessoas, o Cruzeiro não conseguiu furar o bloqueio dos alemães e a partida acabou em 0x0. Não havia mais o que vencer para aquela equipe. O Bayern era o dono do mundo do futebol. E ainda tinha o sucesso estendido pra seleção nacional através de seus principais craques, que naqueles anos 70 simplesmente esbagaçaram todas as competições que viram pela frente.
O Fim de Uma Era
No fim de 1976, mais uma vez a Bola de Ouro da France Football foi para Munique, e uma vez mais o ganhador foi Franz Beckenbauer, que faturava a sua segunda e última conquista do prêmio.
Isso era algo que mostrava o quanto a qualidade do Beckenbauer era capaz de se destacar de maneira incrível, mesmo que jogadores como Hoeneß, Rummenigge e Müller fossem os grandes responsáveis pelo número de gols da equipe, não havia dúvidas de que o melhor jogador bávaro era aquele defensor.
Um jogador que sem bola era uma muralha, um gênio do tempo de bola e da antecipação. E com a bola, era tão técnico e cheio de classe que recebia total liberdade para avançar, armar jogadas e até defini-las.
Não é difícil ver Beckenbauer com a bola bem a frente no campo ofensivo quando se vê vídeos daquele timaço do Bayern de Munique. Era por vezes um zagueiro-meia, tal coisa só era capaz pelo que o Kaiser era: um verdadeiro gênio da bola.
A temporada de 1976-77 viu o fim da era de ouro do Bayern de Munique, e a passagem de bastão para o Borussia Mönchengladbach como o melhor time da Alemanha. Na Bundesliga, os bávaros terminaram em 7º lugar, enquanto o Borussia se sagrou tricampeão seguido da competição.
Na Champions, o Bayern viu o sonho do tetra acabar nas quartas de final, sendo eliminado pelo Dynamo de Kiev da Ucrânia, enquanto o Mönchengladbach foi vice-campeão do torneio. Vale o destaque que Müller faturou mais uma artilharia pra sua conta nessa edição da Champions League, com 5 gols.
No fim dessa temporada, o principal nome do Bayern de Munique, capitão da equipe e símbolo máximo do clube, decidiu encerrar seu ciclo. Franz Beckenbauer deixou o Bayern e assinou com o New York Cosmos dos Estados Unidos, onde se encontraria com Pelé. Der Kaiser ainda voltaria pro futebol alemão alguns anos depois, pra ter uma curta passagem no Hamburgo, antes de voltar ao Cosmos e encerrar sua carreira.
Gerd Müller eventualmente também iria para o futebol dos Estados Unidos, mas um pouco mais tarde, em 1979. Lá, ele jogou pelo FL Strikers e pelo Smith Brothers, onde encerrou sua carreira.
Uli Hoeneß deixou o Bayern em 1978 para uma curtíssima passagem no Nuremberg, mas depois voltou ao clube bávaro só para pendurar as chuteiras. Hoeneß teve uma carreira curta, que durou menos de 9 anos. Ele acabou sofrendo com sérias lesões de joelho, e naquela época era muito difícil superar esse tipo de problema físico, parando de jogar aos apenas 27 anos.
O goleirão Sepp Maier foi um jogador de apenas um clube: defendeu as cores do Bayern de Munique do primeiro até o último minuto de sua carreira profissional, que se encerrou em 1980.
Com a saída dos principais medalhões, o caminho para um novo líder e referência técnica estava aberto. E quem assumiu esse posto foi um craque mais jovem daquela equipe. O atacante que ficaria conhecido como Barão Vermelho por suas façanhas com a camisa do Bayern: Karl-Heinz Rummenigge. Ele formou uma parceria de sucesso estrondoso com Paul Breitner – que retornou ao clube em 1978 – e, depois de alguns anos de ressaca do tri europeu, conseguiu fazer o Bayern retomar o império na Bundesliga. Mas isso é história para outro dia.
Depois daquela geração de ouro, o Bayern levou décadas para voltar a reconquistar a Europa. A quarta Champions League do clube só veio em 2001! Mas apesar disso, não tinha mais volta para o lugar que o clube estava.
Aquele time liderado por Müller e Beckenbauer pegou um Bayern modesto, na sombra do rival local, e o colocou no topo do mundo. Fizeram um time desconhecido ser o time mais temido. O Bayern que, antes daquela geração, havia conquistado apenas um campeonato alemão lá no início dos anos 30, hoje é o bicho papão da Alemanha, vencedor de mais de 30 campeonatos alemães, e certamente essa contagem vai aumentar muito nos próximos anos.
Em 2020, a France Football decidiu formar os 3 melhores esquadrões da história do futebol, reunindo votos de diversos jornalistas do mundo inteiro. Com isso, pudemos ver o devido reconhecimento a pelo menos dois craques históricos daquele timaço do Bayern na década de 70. Franz Beckenbauer foi escalado como zagueiro do Esquadrão A e Paul Breitner foi escalado como lateral esquerdo do Esquadrão C.
Em 15 de agosto de 2021, um dos protagonistas dessa equipe veio a falecer. Gerd Müller morreu aos 75 anos de idade, mas para sempre seu nome irá ecoar quando se falar dos maiores jogadores da história do futebol. Der Bomber segue sendo com sobras o maior artilheiro da história do Bayern, com 566 gols, e também o maior artilheiro da história da Bundesliga, com 365.
Müller é até hoje considerado um dos maiores especialistas na arte de fazer gol que o futebol já viu, tendo conquistado o número assombroso de 17 artilharias em sua carreira, com destaque pra 7 de Bundesliga, 4 da Champions League e uma toda especial na Copa do Mundo de 1970, quando foi artilheiro do torneio com 10 gols, mesmo sendo essa a Copa da maior e melhor seleção brasileira de todos os tempos, com Pelé no auge e tudo.
Hoje, as pessoas veem um Bayern de Munique predador no futebol alemão, que conquista todos os títulos, que compra os craques dos outros times, que chega na Europa e goleia as outras equipes sem dó nem piedade.
O Bayern é também um dos clubes europeus com uma das maiores torcidas no Brasil e em vários outros lugares do mundo, que só tende a crescer. O Gigante da Baviera, como diz a alcunha, é um verdadeiro sinônimo de grandeza no futebol, dentro e fora de campo e é respeitado e temido por qualquer clube do mundo da bola.
E as coisas só são assim hoje, porque um dia aquele time dos anos 70 mudou a história do clube. Um time repleto de craques, de líderes icônicos, que jogava um futebol feroz e agressivo, que triturava seus adversários com uma mentalidade vencedora e implacável, um time que jamais será esquecido. Um time imortal.